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A bem da Nação

COMBUSTÍVEIS E CONCURSADOS

 

 

Nada melhor do que viver num país onde Deus, certamente por distracção, pôs tudo: floresta imensa, vida animal sumptuosa, infindável espaço agricultável, reservas minerais de toda a qualidade e o até pomo de toda a discórdia mundial, petróleo!

 

E então, quando o país, pela voz do seu (des)governo e da sua (deles) maior empresa – uma das maiores do mundo – anuncia aos crédulos que somos já autónomos em combustíveis, e líderes do mercado MUNDIAL em energia (quase) limpa para automóveis, o famoso etanol, derivado da cana de açúcar, não há como o cidadão não se sentir orgulhoso da sua terra, e aplaudir, com as quatro mãos o tal (des)governo!

 

Aplaudem com as quatro mãos porque, nuns casos elas são todas iguais e, em algumas excepções outras tantas (mãos) recolhem o maná discursivo que o big chefe, com a maior cara de pau, generosa, demagógica, crápula, e junto com grossa parte do erário público, corruptamente distribui.

 

E votam também com as mesmas quatro mãos.

 

Convém notar que a imprensa participa neste festim, basta ver o quanto de fotos e manchetes enganosas publica sobre essa gente. Mas enfim.

Depois, discretamente, aparecem os números, que ainda as tais quatro mãos, tapando os olhos dos entusiastas patriotas, não
deixam ver, a mentira, a grossa mentira, da nossa realidade:

 

- só na semana passada (entre 18 e 20 de Abril, só três dias úteis) foram importados, diariamente, mais de US$ 400 milhões de
petróleo
, por dia!

 

- há dias mandou-se vir da Venezuela mais uns milhões de toneladas de gasolina;

 

- e, espantai-vos, ó gentes, estamos agora a importar etanol dos Estados Unidos, para suprir a demanda, que as nossas usinas de açúcar, por puro descaso do (des)governo, não conseguem fornecer.

 

Mas tem mais tristes anedotas, ou grosseiras e criminosas mentiras, em tudo isto: a gasolina, aqui, leva uma mistura de etanol! Claro.

 

Isto é o país das maravilhas!

 

Como dizia hoje o jornalista Luiz Garcia, “nas campanhas eleitorais promete-se tudo!” Mas isso é peste mundial, porque logo a seguir,
ninguém cumpre coisa alguma.

 

Há tempos escrevi que o primeiro ministro do Reino Unido, na altura o Tony Blair, a seguir aos ataques terroristas que Londres sofreu, pediu ao parlamento que o autorizasse a aumentar o número de colaboradores para
cargos de confiança, de seis para oito.

 

Hoje, no país das maravilhas, onde o desbocado big líder afirma que o PT vai ficar vinte anos no governo (e talvez fique mesmo enquanto for aplaudido a quatro mãos!), estão ainda hoje a mamar à custa do contribuinte 89.850 – oitenta e nove mil oitocentos e cinquenta – indivíduos, admitidos sem qualquer concurso, por contrato, para os tais “cargos de confiança”.

 

Só no (des)governo anterior, foram mais de 115 mil... Claro que estes tachos são para o partido, ou para “fazer um agrado” a qualquer um que traga mais votos!

 

Como resultado neste (des)governo, continuação do anterior, continua a proteger-se o compadrio e a esculhambar a administração pública, porque quem assume esses postos não tem a menor ideia sobre o que fazer! Os
profissionais... que se danem.

 

Vale a pena ler, na íntegra o texto de Luiz Garcia:

 

Sem concurso

Nas campanhas eleitorais, promete-se tudo. Até pureza de vestal e honestidade angelical.

Mas uma promessa é bem rara, se não inexistente: a de realizar projectos e atingir metas com moderação e inteligência nos gastos.

Em outras palavras: a cantada ouvida pelos eleitores raramente inclui uma previsão honesta sobre quanto vai custar a construção do
novo paraíso.

O governo de Dilma Rousseff, que sucedeu a oito anos de administração irmã, presumivelmente não tinha e continua não tendo um projecto revolucionário de gestão. A promessa eleitoral, como não iria deixar de ser, era singela: um tanto mais das mesmas coisas. Os oito anos Lula tiveram, entre seus traços mais marcantes, um extraordinário, digamos assim, apetite nomeador.

 

Algo do género costuma acontecer em administrações estreantes. No caso, o apetite foi particularmente assustador.

 

Esse dado foi devidamente registrado por adversários políticos e pela mídia. Nos dois casos, isso foi recebido pelo Palácio do Planalto com soberana indiferença. Do ponto de vista eleitoral, deu para entender. O fato de que, nos oito anos de Lula, 115 mil servidores foram admitidos na máquina federal não teve qualquer impacto na eleição tranquila de sua sucessora.

 

Como consequência talvez inevitável dessa indiferença da opinião publica, a farra continua na mal iniciada gestão de Dilma. Com um dado especial: cresceu extraordinariamente a percentagem de cargos de confiança nos ministérios. O que parece ser, ao menos em principio, algo preocupante. Ou mesmo errado, em prin­cipio. Numa administração estruturada com um mínimo de lógica, supõe-se que a maior parte do trabalho, principalmente em áreas técnicas, seja entregue a profissionais devidamente concursados.

 

Por dois motivos óbvios. Primeiro, o concurso assegura, tanto quanto possível, a competência dos candidatos mais bem colocados. Depois — e talvez principalmente — coloca a maquina publica a salvo de um perigoso fenómeno: a politização partidária da burocracia estatal.

 

A politização é visível no governo Dilma. É natural que, na Presidência da República, os cargos de confiança seja maioria. Hoje, eles são 85% do total. É muito; ainda assim, digamos que seja aceitável. Mas é difícil entender que, em sete ministérios nos quais as áreas técnicas são de considerável ou mesmo decisiva importância, o numero de cargos de confiança oscile entre 50% e 70%. Isso é opção técnica ou ocupação política?

 

A resposta a essa pergunta pode ser ajudada por um episódio. O Ministério do Turismo e a Embratur realizaram um concurso, e 112 candidates foram aprovados. Mas, por decisão do Ministério do Planejamento, nenhunzinho foi contratado. Pelo visto, sem concurso as portas se abrem com bem maior facilidade.

 

Rio de Janeiro, 27/04/2011

 

Francisco Gomes de Amorim

 

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