«L’ÉCUYER MIROBOLANT»
Étienne Beudant - Vallerine
Le dos cambré exagérément, le nombril en avant, les pauvres jambes arquées, la tête droite comme aspirée par le ciel, les yeux écarquillés, la bouche ouverte, le vieux militaire semblait, à quatre-vingt-six ans, avoir été saisi dans son rêve, empêché dans son mouvement, coulé vivant dans le plâtre. (…) dans sa main droite, M. Beudant tenait une fine badine et, dans la gauche, serrait une rêne de bride dont le double mors étincelait dans le carrelage. Deux éperons portugais sans lanières étaient accrochés à ses charantaises informes.
Eis como Jerôme Garcin descreve o cenário em que o Capitão Étienne Beudant foi encontrado morto na sua cadeira de rodas. No momento da verdade, o grande Mestre da equitação erudita da primeira metade do século XX, fez-se acompanhar por um par de esporas portuguesas.
Sim, afagou-me o nacionalismo.
E ao longo do livro, há frases formidáveis que só um mestre de equitação consegue escrever acerca do que a arte mais efémera tem de sublime:
Quel que fût le cheval, il n’aspirait qu’à se passer des aides. Il rêvait en effet de régner sans poids ni appuis, par le seul souffle de la
botte, la caresse du cuir et la profondeur de l’assiette. (…) C’est ainsi que, à cheval, certains font de la musique et d’autres, dés bruits de casserole. (…) Cela s’appelle le tact.
Fascinante, a vida do Capitão Beudant contada por Jérôme Garcin num pequeno livro da editora Gallimard. É claro que o Autor sabe o que é equitação erudita mas, para além disso, bastam-lhe 180 páginas para nos conduzir através da História de França desde os finais do séc. XIX até 1949, ano da morte do Capitão, sobretudo pela Argélia e Marrocos; a dolorosa invasão alemã, o Governo de Vichy, o drama de Vallerine. E sobre esta nada mais digo pois quem me lê conhece-a de certeza.
Felizmente, o autor poupa-nos àquelas fotografias horríveis de Beudant em diversos cavalos que alguém retocou de modo caricatural assim perdendo qualquer credibilidade.
Pena é que o livro não esteja à venda em Portugal e pena é também que eu não tenha tempo para o traduzir.
Um livro a não perder por quem dedilhe harpa quando monta.
Agosto de 2011
Henrique Salles da Fonseca