O PORTUGUÊS
O facto de ter começado a aprender o francês aos 11 anos, no liceu, e alemão aos 13, autodidaticamente, e o inglês aos 14, também no liceu, iniciou em mim o gosto pelo estudo de línguas estrangeiras. Julgo que uma das grandes causas desta minha tendência aprendedora de línguas foi a II Guerra Mundial, pela simples razão de que "O Primeiro de Janeiro", jornal que lá entrava em casa, trazia frequentemente os mapas dos países invadidos pelos nazis, a cores, que eu copiava gostosamente em papel almaço. Assim também tomei o gosto pela geografia. Até soube os nomes das capitais de todos os países do mundo.
Hoje, evidentemente que não.
Mas talvez a causa mais importante na minha inclinação pelas línguas estrangeiras foi eu ficar em pulgas quando ouvia um estrangeiro a falar e não entendia o que dizia. Por isso pus-me a estudar para o entender. Nunca consegui o meu objectiv, como é natural e evidente. Lembro-me perfeitamente dum filme alemão que foi exibido no Cinema de Val Formoso, à rua de Costa Cabral (?), perto do Marquês. Chamava-se "Die Frau meiner Träume" (o "a" tem um trema, a que não consigo reproduzir: Tróima). Quando regressei a casa nesse dia, agarrei-me ao meu livro "Alemão sem Mestre", que comprara na Feira do Livro, na Praça da Liberdade. Continuo a não perceber o alemão...
Dizia um Fulano: "Eu sei todas as línguas do mundo, menos o Chinês!". Diz Sicrano: "Então diz qualquer coisa em Francês!". Replica o Fulano: "Ah, Francês para mim é Chinês!"
Nunca fui político nem internacionalista. Sou nacionalista, acho que todo o homem amante da sua pátria é nacionalista. Por isso respeito todos os nacionalistas ou patriotas, e simpatizo com todo o estrangeiro que ama a sua pátria e a defende. Um internacionalista ou é apátrida ou hipócrita.
Sendo nacionalista e respeitando os nacionalismos alheios, eu posso admirar e gostar de todos nacionalistas sinceros e respeitadores, da sua cultura, história e língua. Por isso, não me causa engulhos estudar e aprender línguas estrangeiras. Pelo contrário, esse estudo faz-me valorizar a cultura de Portugal, a sua história e a sua língua. A história de Portugal, mormente a da expansão ultramarina, é brilhante. A língua portuguesa é uma das línguas mais importantes faladas e escritas no mundo. Só os ignorantes não sabem isto. Medem Portugal pela sua própria pequenez individual.
Amo a minha língua natal e não a inferiorizo de modo algum por comparação com outras línguas mais em moda.
Portugal é um grande país espalhado por todo o mundo, embora politicamente esfacelado. Esfacelaram-no os maus políticos para quem Portugal é apenas uma faixa de 90.000 km2, e que dele fizeram "lixo", -- que evidentemente não é, excepto para os "lixeiros". Este poderia ser um aforismo latino:
Parvuli omnia parva faciunt
Os parvos fazem pequenas todas as coisas.
Não sejamos parvos!
Joaquim Reis