VALEU A PENA?
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Viver em um país democrático, em franco processo de desenvolvimento industrial e tecnológico, é poder fazer escolhas. É aceitar ou não mudanças que a modernidade cobra. Se o progresso material traz benefícios, traz também poluição e perda na maneira simples e saudável de viver o quotidiano. Ter um pouco de cada talvez fosse a medida certa para se obter uma boa qualidade de vida.
A esperança utópica da felicidade e da imortalidade acompanha o homem desde a sua milenar existência. Ele ousa, revoluciona, descobre, experimenta, emprega toda a sua potencialidade intelectual, física e imaginativa, na busca da realização de seus objectivos e sonhos.
Nos tempos recentes, as conquistas da revolução industrial e tecnológica trouxeram para os países industrializados, mais desenvolvidos, conforto, facilidade de obter alimento e perspectiva de vida longa. O preço foi a destruição da maior parte dos seus recursos naturais e a poluição do meio-ambiente. A população cresceu e envelheceu. Hoje a juventude produtiva, paga caro para manter os benefícios dessas conquistas.
No planeta somos 7 biliões de seres disputando, desigualmente, espaço e alimento. Pagamos todos, igualmente, o custo ambiental do desenvolvimento de alguns. A medicina moderna aumentou a expectativa de vida e diminuiu o sofrimento físico. Se raramente morremos de infecções ou de ataques cardíacos, em contrapartida morremos mais tardiamente de doenças consuntivas e degenerativas da velhice, com todas as suas consequências. Será que valeu a pena?
Para aqueles que ainda têm na memória a experiência de uma época vivida, mais pura e saudável em termos afectivos e sociais, onde nem tudo era difícil, em termos de conquistas materiais, talvez a resposta seja um dilema. Para o jovem que não tem parâmetros de comparação ou para aqueles que tiveram um passado de vicissitudes será mais fácil dizer que hoje a vida é melhor, sem dúvida.
A natureza, no entanto, para subsistir está sempre à procura do equilíbrio. Morte e vida fazem parte um ciclo que mantém a sua existência. As mudanças evolutivas que os milénios anteriores trouxeram vieram de forma gradual e selectiva, dando tempo para que as adaptações necessárias ocorressem. Hoje, as enxurradas de novidades e acontecimentos que chegam todos os dias, tudo muda rapidamente. Será bom para o nosso corpo, será bom para a nossa mente?
Todo o conhecimento científico é provisório, até que surja outro, à luz de novas descobertas. Testar possibilidades, aprender com as experiências é vocação humana. Agir com inteligência e sabedoria é viver melhor o seu tempo. Para celebrar a vida e ser feliz cada um e cada povo têm a receita específica, baseada nos seus valores e cultura. E o futuro vai depender da maneira como a humanidade utilizará os conhecimentos aprendidos.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 17 de Julho de 2011