RETOMAR O "BEM COMUM"
(*)
Os tempos em que vivemos não se compadecem com ruído estéril. De esquerda ou de direita
Agora que o Governo tomou posse e que o respectivo programa foi aprovado, é fundamental que sejamos interpelados a revalorizar a salvaguarda do "bem comum" da sociedade portuguesa, neste momento que todos sabemos ser muito difícil. E essa salvaguarda passa por ultrapassar os interesses individuais e dos grupos corporativos de qualquer natureza. Partidos, sindicatos, associações empresariais e outras organizações são convocados a um elevado sentido de Estado e a deixar de lado as divergências mais marcadamente ideológicas. Porque os tempos em que vivemos não se compadecem com ruído estéril. De esquerda ou de direita.
A causa do "bem comum" exige ter os pés bem assentes na terra, exige realismo. Muito sério. Portugal tem de recuperar a credibilidade junto dos mercados internacionais (por mais que as medidas a implementar possam ser diabolizadas pelos sectores mais críticos), através de políticas bem consolidadas, para que seja solto de vez o "lastro" de país do final da linha. E Portugal tem de se credibilizar junto de todos nós, que estamos exauridos de tanto desregramento.
O esteio do esforço nacional tem de estar em cada um de nós. Tem de estar desde o mais alto responsável da Nação até ao mais humilde dos cidadãos. Todos temos de estar na primeira "trincheira" desta batalha que pode significar ganhar a guerra contra o declínio económico e financeiro. Uma guerra que tem de ser ganha, definitivamente.
Realismo é a palavra-chave dos tempos que vivemos. Porque muitas vezes há quem pense que os problemas se resolverão por si mesmos. Que haverá um homem providencial que chegará do meio do nevoeiro e fará com que a nossa dívida externa desapareça; que o número de desempregados baixe; que as empresas em crise sejam em menor número; que a Segurança Social dure para sempre e tudo garanta. Generosidade, honestidade e verdade são três lemas, três linhas orientadoras, que devem fazer parte do nosso dia-a-dia. E esperemos ver espírito de serviço exemplar nos detentores de cargos públicos, a quem mais compete o esforço de devolver credibilidade interna e externa ao país.
Como afirmou recentemente o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, o país "tem de dar o seu contributo à evolução positiva, concretamente da União Europeia e da Zona Euro, e só o fará se resolver positivamente, reconquistando a credibilidade, o momento que passa". "Não é a mesma coisa partilhar generosamente e ser obrigado a distribuir", adianta a Conferência.
Os tempos em que vivemos não são fáceis, já todos sabemos. Por isso, lemas como os da solidariedade e do trabalho árduo em prol do colectivo são decisivos para quem herdou uma situação em que, mais do que chorar o que foi (mal) feito, há a necessidade de trabalhar para o "bem comum". Retome-se e viva-se o conceito.
Pedro Botelho Gomes
Advogado
In Público, 7 de Julho de 2011