ALENTEJANANDO – 5
Saindo de Vila Viçosa de regresso a Lisboa, decidimos passar pelo Redondo e almoçar em Évora.
E por ali viemos nós ladeados por montanhas de escombros das pedreiras de mármore ou por blocos à espera de expedição. Curiosamente, uma região eminentemente exportadora de grandes blocos de pedra, tem o caminho-de-ferro desactivado. Quando eu for crescido hei-de entender o porquê de tal facto. Por enquanto, considero isso uma grave anomalia. Ou será que a ferrovia portuguesa ganha muito dinheiro noutras linhas e não precisa do negócio do frete do mármore?
Foi durante esse percurso que me lembrei de que o Convento das Chagas em que pernoitámos esteve muito tempo ao abandono entre a extinção das Ordens religiosas e algum aproveitamento que se lhe deu como dormitório de seminaristas e mais tarde como Escola de Artes. Os seminaristas escassearam e extinguiu-se o dormitório; os alunos de arte faltaram e a Escola fechou. Até que num Governo do Professor Cavaco Silva se transformou o Convento em Pousada e vida nova surgiu do que se preparava para cair em ruína. Mas ficou-me na ideia de que o mármore é exportado com muito pouco valor acrescentado local. Pedregulhos e alguma serração menos bruta mas sempre escassa elaboração. Ou seja, a terra pouco faz actualmente para valorizar o seu principal (e exaurível) recurso. A Escola de Artes formal não resultou mas eventualmente poderia ser interessante a Câmara de Vila Viçosa desafiar algum ilustre escultor aposentado a instalar-se em casa-atelier que lhe seria disponibilizada graciosamente na condição de «fazer escola» atraindo forasteiros que com ele quisessem aprender o refinamento da sua arte em mármore.
E dali seguimos até ao Redondo de modo a metermos pela estrada que atravessa a Serra d’Ossa em direcção a Estremoz. Tínhamos como objectivo visitar o hotel instalado no antigo Convento de S. Paulo. Tudo bem sinalizado, foi fácil lá chegar. Sim, os frades sabiam escolher os locais em que se instalavam e bem andou o Engenheiro Henrique Leote quando decidiu adaptar o convento a hotel de 4 estrelas.
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Muito bom, o mínimo que posso adjectivar.
(**)
Mas a surpresa estava à minha espera logo à entrada quando deparei com uma maquette que me pareceu relativa a local meu conhecido. Não foram necessárias grandes adivinhações para reconhecer Juromenha. Sim, a Fundação Henrique Leote vai muito em breve tomar conta do supra-sumo do desmazelo que dias antes tanto me contristara e repor vida onde hoje ela só se manifesta pelas ervas daninhas. E aqui fica um tranquilizante: não vi qualquer referência a campos de golf ou a outras imbecilidades do estilo. Logicamente, com um lago a seus pés como é o Alqueva, para quê estragar a ecologia local com os químicos pavorosos que transformam qualquer local à superfície da Terra em greens escoceses?
Se outro motivo não houvesse para a minha satisfação – e houve – bastaria esta notícia sobre Juromenha para justificar a visita ao Convento de S. Paulo na Serra d’Ossa.
Foi com a alma lavada de fresco que seguimos para Évora…
Março de 2011
Henrique Salles da Fonseca
(*)
(**)
(***)http://canelaehortela.com/convento-de-sao-paulo-leva-a-cabo-mais-uma-passagem-de-ano