AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES LITERÁRIAS BRASILEIRAS
Descrição do Rio de Janeiro no século XVI (Fernão Cardim)
O jesuíta Padre António Vieira
Autor desconhecido
Fonte: Enciclopédia Delta Universal
”A cidade está situada em um monte de boa vista para o mar, e dentro da barra tem uma baía que parece que a pintou o “supremo pintor e arquitecto do mundo,” Deus Nosso Senhor, e assim é coisa formosíssima e a mais aprazível que há em todo o Brasil, nem chega à vista do Mondego e Tejo. É tão capaz que terá vinte léguas em roda, cheia pelo meio de muitas ilhas frescas de grandes arvoredos, e não impendem a umas as outras, que é o que lhe dá graça; tem a barra meia légua da cidade, e no meio dela uma lájea de sessenta braças de comprimento, e bem larga que a divide pelo meio, e por ambas as partes tem caudal bastante para naus da Índia. Nesta lájea manda El Rei fazer fortaleza e ficará coisa inexpugnável, nem se lhe poderá esconder um barco. A cidade tem cento e cinquanta vizinhos com seu vigário, e muita escravaria da terra.”
Narrativa Epistolar de uma viagem
Fernão Cardim nasceu em ano incerto, na década de 1540 em Viana do Alentejo (Portugal), e morreu em 1625, na Aldeia de Abrantes, Bahia (Brasil). Foi um jesuíta português que em 1566 ingressou na Ordem fundada por Inácio de Loyola e que em 1583 veio para o Brasil com o governador Manuel Teles Barreto e com o visitador Cristóvão de Gouveia. Depois de percorrer as capitanias da Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, e São Vicente (São Paulo), escreveu cartas e textos importantes para a Companhia de Jesus sobre as terras do novo mundo. Suas anotações seriam posteriormente fonte de pesquisa histórica e etnográfica para colonos, missionários e estudiosos dos primeiros tempos do Brasil Colónia.
Fernão Cardim foi reitor do Colégio dos Jesuítas na Bahia e do Colégio de São Sebastião, em 1596, no Rio de Janeiro.
Em Roma é eleito Provincial do Brasil. Na viagem de volta ao país, em 1601, o barco aonde vinha é tomado pelo corsário inglês Francis Cook. Aprisionado, é levado para Londres e seus manuscritos sobre as terras, as plantas, o clima, e os índios do Brasil são confiscados. Após ser resgatado pela Companhia de Jesus, volta pela segunda vez ao Brasil e assume finalmente em 1604 o cargo de provincial. Vinte e quatro anos depois, em 1625, ano da sua morte, parte do seu trabalho (Do clima, e da terra do Brasil. Do principio e da origem dos índios do Brasil) é editado em Londres pela primeira vez, na língua inglesa, dando como autor Manuel Tristão, português que viveu muito tempo no país. Porém, no final do século XIX, o historiador brasileiro Capistrano de Abreu identificou o verdadeiro autor.
Após publicações em Portugal e Brasil no século XIX, Rodolfo Garcia reuniu e editou em 1925 todos os textos conhecidos da obra de Fernão Cardim sob o título Tratado da Terra e gente do Brasil.
No Brasil, os trabalhos escritos pelos jesuítas dos séculos XVI e XVII são na maioria das vezes descritivos, informativos, voltados principalmente para a educação e catequese dos colonos e indígenas, são as primeiras manifestações literárias brasileiras.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 22/02/11
Fontes:
Enciclopédia Delta Universal
António Salles Campos (Português Colegial)
Wikipédia