POSTAIS ILUSTRADOS XLVIII
AVALIAÇÃO DE CARÁCTER
“...parece mentira que haja
no mundo gente tão perversa.”
Mário Vargas Llosa (*), pág. 10 do
Romance: “Quem matou Palomino Molero?”
(**)
Da apresentação deste romance, acima em citação, lê-se na contra-capa. “...um surpreendente registo policial que prende o leitor pela originalidade estilística tanto como pelo próprio enredo arrebatador e imprevisível”.
A originalidade e a “imprevisibilidade” são duas das características de fazer política em Portugal. Tudo é novo; mas velho; tudo é descaradamente previsível.
O nosso estilo de fazer política roça um comportamento social marginal recorrente.
Nas avaliações de carácter, os candidatos aos vários cargos julgam-se superiores à “populaça” que vota e à qual não são devidas quaisquer explicações, quanto ao seu comportamento político e social.
E os candidatos, esquecem-se sempre de uma coisa simples e banal: um candidato perde a sua privacidade enquanto ente público e tem de se explicar à “populaça” quando é apontado e lhe são imputados quaisquer actos menos próprios, ainda que sejam legais; mas que o vulgo considera socialmente discutíveis e condenáveis, pelo menos enquanto não forem cabalmente esclarecidas todas as circunstâncias que os envolvem, e, para que não haja dúvidas, mesmo raras ou enganos, sublinho e repito, todas as circunstâncias.
É!... O risco que corremos quando enveredamos pela vida pública tem o ónus de sermos forçados a explicar-nos quando somos postos em causa.
A privacidade desaparece para dar lugar à exposição pública e, nesse terreno, toda a gente, mas, mesmo toda a gente, sem excepção, tem de prestar contas e de ser responsabilizado pelos seus actos e responder por eles, em juízo político ou judicial; quer no “tribunal” da opinião pública, quer no Tribunal Comum, como órgão de soberania e instrumento para fazer respeitar as Leis.
É este o princípio mais nobre da Democracia, como modelo político ocidental.
Enquanto nós, portugueses, não pensarmos assim e não formos exigentes connosco próprios e com os que nos governam; eliminando, através do voto, em participação maciça, aqueles que não nos interessam, estaremos sempre no passado, à espera do D. Sebastião e do nevoeiro de onde este emergirá.
Nevoeiro que nos esquecemos, esconde gente perversa...
Com tudo isto informo-vos, caros Leitores, que subscrevi a petição do «Correio da Manhã» para inscrever o enriquecimento sem causa na tipologia dos crimes; petição esta, que, consultada hoje, já se aproxima das 18 000 assinaturas.
Quando for entregue na Assembleia da República, fico à espera das reacções dos nossos lídimos e legítimos representantes.
Até breve...
Luís Santiago
Sintra, 20 de Janeiro de 2011
(*) Prémio Nobel da Literatura 2010. O Livro vai, em Portugal na 2ª Edição da Editora Publicações Dom Quixote.