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A bem da Nação

UM ARTISTA OURO-PRETANO

 

 Ouro Preto

Ouro Preto

Foto fonte: Revista: Diálogo Médico (Ouro Preto, Jan/1992)

 

 

Em 18 de Novembro de 1814, numa modesta casa de Ouro Preto, encima de um pobre estrado de madeira, expirava António Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

 

Andar por Ouro Preto, a antiga Vila Rica, é subir e descer ladeiras, é ficar com torcicolo de tanto olhar para cima e para baixo as suas belas moradias e ricas igrejas dos tempos do Brasil Colónia. Tombada em 1981 Património Histórico da Humanidade pela UNESCO, a cidade possui o maior acervo de obras sacras barrocas do mundo. Calçadas por pedras pé-de-moleque, ruas e becos guardam histórias, lendas e segredos dos inconfidentes. Casas ricas ou pobres, geminadas, testemunhas de vidas e mortes, todas conservadas pela necessidade histórica de preservá-las para o turismo ou para o grande número de estudantes, que povoa a cidade no tempo das actividades escolares, na preparação para cursos universitários em Farmácia, Geologia e Mineralogia que lá têm base.

 

A cidade das ladeiras, fundada pelos bandeirantes paulistas, é um misto de passado e presente, bem dosado, onde se encontra um espaço para toda a gente. Após um dia inteiro percorrendo o património histórico e comércio, lojas de pedras e de produtos artesanais, nada como um banho relaxante numa hospedaria tranquila e aconchegante do lugar. Ao jantar, apreciar um frango caipira “de molho” com quiabo e arroz branquinho, ou bom prato de feijão tropeiro, com couve mineira bem fininha refogada na manteiga e costelinha frita... mas só para quem não tem problemas com a dieta! A sobremesa, para horror dos franceses e delícia dos mineiros, poderá ser um Romeu e Julieta (goiabada com queijo frescal), ou talvez um pudim de leite ! Para quem é jovem e gosta de agito, as praças principais oferecem chope gelado, mandioquinha frita como tira-gosto, música moderna. Para os românticos que apreciam um local antigo, tradicional, intimista, onde ao som das cantigas tradicionais, dolentes, acompanhadas pela viola, serve-se a garapinha ou a purinha... sempre quente. Depois, lá pelas altas horas, um escaldado de frango, um caldo de feijão ou de mocotó, fumegantes, para rebater o frio da madrugada. Assim é hoje a terra do mais famoso artista da arte sacra barroca brasileira, filho do mestre-de-obras português, Manuel Francisco Lisboa e de sua escrava africana Isabel, o Aleijadinho.

 

Os historiadores não chegaram a um consenso, se António Francisco nasceu em 1730 ou 1738, como leva a crer o atestado de óbito, que diz ter morrido a 18 de Novembro de 1814 aos 76 anos de idade. O que se sabe ao certo, é que cresceu num ambiente colonial onde a influencia religiosa era marcante e omnipresente. Em Vila Rica, a Igreja recebia parte do ouro descoberto e o empregava em construções, reformas e embelezamento dos templos. Ela era a maior empregadora de pedreiros, marceneiros, mestres-de-obras e artista da época. Nas fachadas, altares, tetos, frontispícios, a arquitectura, o entalhe e as pinturas das igrejas guardaram a arte sacra barroca mineira para a posteridade. “Deus é detalhe” disse Guimarães Rosa, Aleijadinho mostrou-O em sua obra.

 

Da juventude desse mineiro iluminado pouco se sabe, porém seus trabalhos mais conhecidos (Os doze profetas e Os passos da Paixão) foram executados quando já estava velho ( mais de 60 anos ) e doente. Aleijadinho sabia ler e escrever. Com o pai e tio aprendeu os primeiros desenhos, a projectar, a fazer as primeiras esculturas. Na casa de Fundição de Vila Rica, com João Gomes Batista prosseguiu seus estudos. Com os entalhadores Francisco Xavier de Brito e José Coelho de Noronha aprimorou o entalhe.

 

A Fonte do Padre Faria, em Ouro Preto, as imagens São Simão de Stock, São João da Cruz, em Sabará, e muitas das suas obras estão espalhadas pelas históricas cidades mineiras. Os três anjinhos bochechudos formando um triângulo, talvez sejam a impressão, a marca registrada de sua autoria, em tantas outras obras.

 

O capricho, o requinte do detalhe, a alta expressividade de seus personagens valeram-lhe fama, encomendas de muitos trabalhos e dinheiro que nunca soube administrar. Mesmo vítima de um mal que o deformava e que pouco a pouco o incapacitava, destruindo articulações e comendo-lhe dedos e artelhos, fazia com que seus escravos (dois) o carregassem, amarrassem o cinzel e o martelo às mãos e atassem uma joelheira de couro, para que de joelhos pudesse trabalhar. Dizem que saía à noite montado num cavalo, enrolado numa capa escura para esconder sua triste figura dos olhares indiscretos.

 

Em 1812, já quase cego e inválido, foi morar com Joana Lopes, sua nora, que cuidou dele até o final de seus dias, em 18 de Novembro de 1814, pobre e esquecido pela comunidade. António Francisco Lisboa, um luso-afro descendente, nasceu e morreu numa região de Minas Gerais onde a montanhas e a natureza que as circunda nada tem de exuberante, só o ouro que, brotado das suas entranhas, arreganhou a cobiça dos homens, abriu e enfeitou cidades, e sob a inspiração divina encontrou no génio criativo de um homem a sua maior expressão de arte e beleza.

 

 Aleijadinho

Suposto retrato póstumo de Aleijadinho, realizado por Euclásio Ventura no século XIX.

Fonte : Wikipédia, enciclopédia livre

 

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 18 de Novembro 2010-11-18

 

Dados:

Diálogo Médico (Jan. 1992) Ouro Preto Enciclopédia Delta Universal

Wikipédia

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