COISAS DA ÍNDIA – 1
OS PECADOS DE BASTIÃO PIRES
(*)
. Embarcou de Lisboa para a Ásia pouco depois de 1500. Foi Vigário geral da Ilha de Cochin, na Costa do Malabar. Ao Oeste e não muito distante situa-se a Serra da Pimenta, Cabo de Comorim um pouco mais ao Sul da Índia. Cochim foi base importante dos portugueses antes de Afonso de Albuquerque conquistar definitivamente Goa em 1510.
. De Cochim é planeada a expansão lusa para a Costa do Coramandel, a Ilha do Ceilão que se situa a Sul da Baía de Bengala até ao extremo Oriente. Bastião Pires, também conhecido por Sebastião, chega a Cochim nos anos de 1512. Em Lisboa, foi pároco de prestígio, confessor e Capelão de Dom Manuel I.
. O monarca Venturoso, tendo em Bastião um clérigo da sua confiança, nomeou-o Vigário-Geral de Cochim e mandou-o seguir para a Índia arrebanhar cristãos; numa terra onde havia muitos infiéis, inclusivamente mouros de tez escura iguais aos de Marrocos e Tânger e que imenso trabalho tinha dado aos portugueses escorraçá-los do Algarve para o Norte de África.
. Trocou correspondência com o Rei D. Manuel I; foi a Lisboa apresentar-lhe "queixinhas", dando-lhe conta do pouco zelo que à sua fazenda lhe era dado na Ilha da Pimenta; voltou à Índia. E, depois da morte do seu Rei protector, foi acusado de crimes de peculato, de "mulherengo" e acabou por desaparecer da arena política/religiosa da Índia.
. Ficaria por lá mas Lopo Soares de Albergaria enviou-o para Lisboa a fim de prestar contas do que foi acusado. Pobre do padre Bastião Pires que depois da morte do seu grande amigo Afonso Albuquerque não conseguiu libertar-se da vingança dos adversários políticos. . A intriga era coisa comum entre os portugueses da época. Todos desejavam – fosse como fosse – enriquecer sem escrúpulos.
.Não vamos julgar o pároco Bastião Pires, tão-pouco condená-lo pelas acusações que lhe foram feitas há quase 500 anos. Para atingirem objectivos, os fidalgos vaidosos, a gente de confiança d’el-Rei, que depois o traiam na Índia, não olhavam a meios para regressarem poderosos a Lisboa.
José Gomes Martins
(Bangkok)