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A bem da Nação

OLHAR EM FRENTE – 1

 

 

QUEM SE FIA…E DE QUEM?

 

 

CTT de Tavira, repleto de clientes.

 

E digo clientes porque, na transformação sofrida, de Serviço público para empresa do Estado, os utentes deixaram de ter um papel mais ou menos importante nos objectivos perseguidos.

 

Papel e importância que, na alienação de empresa, preparada para breve em nome da regulação do deficit orçamental, vão decerto figurar em níveis de satisfação muito precários.

 

Após privatização, estarão em primeiro lugar as prestações aos gestores, depois o lucro, depois a consolidação patrimonial, mais adiante a frota para a Administração. Se algo sobrar, pode ser que se invista na melhoria estrutural, na criação de postos de trabalho e, nessa altura, se pensar a sério em fazer chegar ao utente – perdão, ao cliente – um serviço de maior qualidade.

 

Os exemplos em áreas que foram (e não deviam ter sido) privatizadas não nos deixam outra perspectiva que não seja o cepticismo.

 

Mas, a nossa crónica não tem a ver com esta temática.

 

O facto do meu talão de atendimento ter um número bastante alto, deu tempo e jeito para observar os diversos tipos de utilizadores que estavam à minha frente. Era dia de vales da Segurança Social, percebi depois. Mais propriamente, RSI (rendimento social de inserção).

 

Uma senhora dos seus cinquenta anos, não mais, bem nutrida e de garganta bem afinada, constatou com o pessoal do balcão o facto de que o “vale” não tinha chegado.

 

- Eu não percebo estes carteiros, o vale já cá devia estar…

 

A funcionária, com muita paciência, lá lhe deu o número de telefone da estação para ela, logo que recebesse o vale de correio, perguntar se haverá dinheiro em caixa para o pagamento, pois, como é sabido, os CTT só pagam os vales se houver disponibilidade em cofre.

 

Voltou-se a senhora para outra cliente que ela não conhecia de lado algum:

 

- Já no mês passado também demoraram, mas isso foi culpa deles. A segurança social anda sempre atrasada…

 

E no seu falajar de estridência acima da média, antes de sair, ainda interpelou outro dos que esperavam a sua vez:

 

- Isto não pode ser. Eles atrasam-se, mas eu preciso do dinheiro. Vá lá uma pessoa fiar-se na Segurança Social!

 

Perante o seu aspecto e eventual capacidade e desenvoltura, movendo-se em perfeitas condições e falando alto e bom som, fiquei a pensar:

 

- Ela não se fia na Segurança Social. Será que temos de nos fiar em gente que nada produz mas cada vez mais exige que o País a sustente?

 

 Luís Horta

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