IMPORTAR UVAS DE MESA!
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Depois de escrito o artigo publicado na semana passada, encontrei num supermercado uvas brancas de boa qualidade, de origem portuguesa. Porque na embalagem estava a indicação do produtor, contactei-o pelo telefone e perguntei pela uva D. Maria. Disseram-me que também a produziam e vendiam, por exemplo, para os supermercados Modelo. De facto ali a encontrei e pude comprar (a 1,99 €/kg) pois nos outros não havia, embora abundassem, como referi, as variedades importadas que, para mim, são de inferior qualidade.
Entre os muitos produtos agrícolas que Portugal não devia ter de importar encontram-se as uvas de mesa. Ninguém pode alegar essa desculpa (esfarrapada, em muitos casos) que "as nossas condições naturais não nos permitem competir". Por esse facto, só posso compreender o que vemos nos supermercados como uma qualquer deficiência da parte dos agricultores em termos de produção e comercialização (havendo, como vimos, algumas honrosas excepções) ou uma melhor e mais agressiva acção dos importadores.
Não podemos esquecer que alguns indicadores semelhantes para outros produtos agrícolas sofrem do mesmo mal. É esse o caso dos rabanetes vindos da Holanda (que recentemente voltei a referir) e dos alhos vindos da China. Repetidamente – mas sem êxito - tenho chamado a atenção para a importante e benéfica acção duma boa agricultura no PIB, no défice orçamental, no desemprego, na inflação, na balança comercial e até na indústria e no comércio, a montante e a jusante. Se não fosse a destruição operada na nossa agricultura e os milhares de milhões de euros gastos todos os anos a importar produtos que aqui devíamos produzir, a nossa economia e as nossas finanças não estariam no estado miserável em que as puseram.
Entre os muitos produtos que Portugal não deveria ter de importar estão, como disse, as uvas de mesa. É chocante ver os supermercados a abarrotar de uvas estrangeiras, quase todas bem inferiores a muitas variedades nacionais, entre as quais se destaca essa excelente 'D. Maria', aliás um produto da investigação agronómica portuguesa.
Miguel Mota
Publicado no Linhas de Elvas de 30 de Setembro de 2010