POSTAIS ILUSTRADOS XLIII
O MONSTRO
O rebanho é um só!
As ovelhas é que são
diferentes.
Anónimo
Lembram-se de quem usou esta expressão – O Monstro – e quando?
É. Já la vão uns anos.
A memória é curta, mas o registo da História é inexorável.
O Monstro é o equivalente a:
– Duzentos e trinta deputados, mais assessores, mais secretariados, mais carros de alta cilindrada, mais empresas de outsorcing a mamar à descarada, mais viagens, mais subsídios não se sabe bem para quê, mais transferências do erário público para partidos políticos representados na nossa Assembleia da República e, por aí adiante...;
– Vários Ministros dos quais só dois ou três é que têm existência justificada, num super governo de tantos ministros quantos os desnecessários para gerir um país de 10 milhões de habitantes...;
– As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York aproximam-se de 15 milhões, governadas por 1 Presidente de Câmara e não têm nem metade dos funcionários superiores...;
– Uma montanha de Secretários de Estado, em que na altura do descobridor do Monstro, este classificava depreciativamente de secretários de Ministros, significando isso que estavam a mais; não eram necessários (?)...;
– Os dois grupos anteriores, sedeados em chamados Gabinetes, onde vivificam um aglomerado de secretárias, assessores com funções indeterminadas, mais pessoal de apoio, que incluem pessoas para fazer recados e servir cafés, mais um conjunto de motoristas e uns quantos carros de alta cilindrada (alguns nem chegam a ser utilizados) para estrangeiro ver. Coisas de imagem...;
– Serviços Públicos Autónomos, Institutos Públicos, Fundos com Autonomia Administrativa e Financeira, Direcções-Gerais, Entidades Reguladoras (!!!), com funções coincidentes ou cujas competências se chocam entre si, mais um escandaloso parque de viaturas que vai desde os dirigentes de topo até aos chefes de divisão...;
– Um acervo inútil de Fundações de amigalhaços, pagas pelo Estado (por nós), para alcançar objectivos duvidosos e manter uma série de curadores com tachos. (Gostei desta: Curadores com tachos)...;
– Trezentas e tal Câmaras Municipais, com uma organização estrutural mais complicada do que a do Estado, onde impera o caciquismo, o desperdício burocrático; onde existe uma estrutura de vários Departamentos que poderiam reduzir-se a três ou quatro, uma escandalosa frota automóvel, que vai desde as viaturas de alta cilindrada para presidentes e vereadores e carros de “serviços” para directores de departamento até chefes de divisão...;
– Mais de mil Freguesias onde os presidentes de junta já têm vencimento (e não é pouco para o trabalho que têm), mais carros e tudo o resto que se sabe...;
– Empresas Públicas que não têm qualquer significado, nem justificação existencial, a não ser a de pagar chorudos vencimentos a administrações que não fazem coisa alguma de útil e fazem regulamentos de um descaramento inaudito para beneficiar do seu próprio despedimento...
Venha a crise política. Não tenho medo dela.
Venha a revisão constitucional. É de suprema e vital importância.
Altere-se a Lei Eleitoral. Quem tem medo da revisão constitucional? Quem tem medo da alteração das normas eleitorais?
Acabe-se com os paninhos quentes, baseados em que não se devem fazer declarações alarmistas. Ou por causa de este ou aquele não gostarem. Se não gostam mudem de país.
Isto não vai lá com declarações de boas intenções.
Isto vai lá com acções e com cortes justos e equilibrados na despesa, mas cortes mesmo, doa a quem doer. Cortes a começar por cima, para exemplo, e não pela base.
Deixemo-nos de conversa e de perda de tempo inútil a discutir TGVs, Aeroportos e outras obras públicas. Não se podem fazer, não se façam. O Ministro das Obras Públicas que meta dispensa...
Corte-se uns tentáculos do Monstro e o défice diminui.
Ponha-se esta gente na rua e os partidos assumam as suas responsabilidades e cortem a mama aos seus militantes acantonados.
O Monstro existe! Alguém tem dúvidas onde deve cortar na despesa do Estado? Eu não tenho...
Os partidos devem renovar-se e se for necessário submeter-se ao voto. Deixem-se de teatros e de nos dar música, lixando-nos o futuro...
O que não for resolvido hoje, será resolvido mais tarde e... provavelmente, de forma mais dolorosa.
Tenham juízo! E actuem em conformidade. Isto pode ser resolvido, desde que haja aquilo que toda a gente sabe e não tem coragem para dizer publicamente (*)...
Luís Santiago
(*) Eu só não digo nem escrevo porque o proprietário do blog não editava. E com razão. Há criancinhas a ler...