LIDO COM INTERESSE – 50
Título: O SANTO CONDESTÁVEL – ALEGAÇÕES DO CARDEAL DIABO
Autor: Tomás da Fonseca
Editor: ANTÍGONA – Lisboa
Edição: 1ª (desta editora), Outubro de 2009
Título: NUNO ÁLVARES PEREIRA
Autor: Jaime Nogueira Pinto
Editor: A esfera dos livros – Lisboa
Edição: 1ª, Junho de 2009
Entre o Zénite e o Nadir, tentemos equilibrar-nos algures ali pela linha do Equador. Por outras palavras: a Fé não se discute.
O livro de Jaime Nogueira Pinto deve ter sido escrito de 2007 a 2009 se bem que por certo com muita investigação anterior; o livro de Tomás da Fonseca corresponde a uma palestra que o Autor proferiu em 1932 e que agora foi trazido aos escaparates sem a clandestinidade em que navegou nas edições anteriores.
Tomás da Fonseca, erudito anarquista e Nogueira Pinto, erudito de direita, fazem-nos percorrer o mesmo tema a partir de perspectivas opostas o que permite ao leitor abarcar todo o horizonte do tema.
E bastaria um parágrafo de Nogueira Pinto para resumir a palestra de Tomás da Fonseca: «Os críticos – na sua maioria não religiosos – não deixaram de acentuar, em nome do humanismo e da paz, o métier de guerreiro de D. Nuno Álvares Pereira, a riqueza acumulada, o perfil autoritário e alguma irascibilidade do candidato [a Santo], quando contrariado.» (pág. 283 e seg.)
Com a erudição e algum humor que lhe eram característicos, Tomás da Fonseca transporta-nos ao ambiente republicano típico de finais do século XIX – princípios do século XX em que predominava um claro antagonismo com a Casa de Bragança que os republicanos acusavam de se comportar como «dona» de Portugal e geradora de problemas em vez de se constituir como parte das soluções que consideravam necessárias e urgentes. Na opinião do Autor, a canonização do «Pai» da Casa de Bragança tem como objectivo a recuperação do prestígio da família reinante durante a quarta dinastia e deve ser entendida no âmbito de um processo visando a retoma do regime monárquico. Esta palestra foi, pois, um remake de «comício republicano».
O livro de Nogueira Pinto poderia ser uma tese de doutoramento mas como o Autor já é Doutor, constitui um livro muito interessante, cenário da interdependência entre a História de Portugal e a da Idade Média europeia, explicação geral (não maçuda nem apenas superficial) dos usos, costumes, literatura e lendas medievais que inspiraram Nun’Álvares e, na opinião do Autor, lhe traçaram o perfil de vida.
Como Guerra Junqueiro dizia, Tomás da Fonseca era «um Santo que não acredita em Deus»; Jaime Nogueira Pinto consta ser homem de Fé.
Mas como a Fé não se discute, fiquemo-nos pelo prazer de leitura erudita e creia quem quiser.
Lisboa, Setembro de 2010
Henrique Salles da Fonseca