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A bem da Nação

JUVENTUDE VIOLENTA

 

 

Um ponto de vista

 

 

Foto: arquivo particular

 

 

Os noticiários não nos deixam enganar, a violência entre as crianças e adolescentes está aumentando. Sinal que algo de muito errado está acontecendo no contexto social do país.

 

No Brasil, algumas semanas atrás, o assassinato e esquartejamento de uma jovem mulher, mãe de uma criança de colo, filho de um astro de futebol, teve como testemunha e co-participação um adolescente de 17 anos, sobrinho do jogador suspeito do crime. Nos Estados Unidos da América, um menino de 12 anos matou a madrasta e foi para a escola como se nada tivesse acontecido. O grande número de casos de bulling mostram o lado perverso e malévolo da face infantil. Assaltos, roubos, até mortes entre menores de 18 anos são vistos pela justiça brasileira como actos infraccionais e não como crimes. Depois de serem submetidos a exames psicológicos, os delinquentes são encaminhados a Instituições para Menores infractores que mais estragam que educam. No caso de crianças com menos de 12 anos, são levadas para casa dos responsáveis com aconselhamentos e orientação psicológica nem sempre cumprida. Mas o que não dá para entender é que o jovem de 16 anos não pode responder legalmente pelos seus actos, mas pode escolher, através do voto, os gestores do destino do país! Recentemente o actual presidente assinou um projecto de lei, que irá passar pelo Congresso, em que é vedado aos pais aplicar qualquer tipo de castigo físico aos filhos (não fala do psicológico), mesmo que seja uma palmadinha correctiva. A nova lei levanta polémica porque, além de já existir uma anterior que protege as crianças e adolescentes da violência, de abusos e agressões físicas, não diz claramente como fará o controle e as acções punitivas. E ainda levanta a possibilidade esdrúxula de tornar os pais e responsáveis reféns das ameaças, verdadeiras ou falsas, dos filhos ou desafectos para conseguirem seus objectivos.

 

Baseada em estudos, a maioria dos psicólogos tolera a palmadinha correctiva, em certas situações e fases da evolução infantil, como uma forma de aprendizado. É sabido que até os 5 anos a criança não tem plena capacidade de raciocínio para saber o que é certo ou errado, o que é inoculo ou perigoso. Porém percebe a linguagem corporal, o olhar, subentendendo o bom e o mau, o sim e o não. Essa é uma fase de conhecimentos, de percepções, de desafios, quando a criança faz testes e experimentos, quando ignora o não como alternativa. Nessa ocasião, na teimosia, na insistência de um ato arriscado, a palmada, na hora certa, dá-lhe o ensinamento que a dor é a resposta à experiência. De outra maneira, teremos que sempre afastá-la das situações e objectos perigosos até que ela tenha idade e entendimento, o que leva tempo, observação e vigilância constantes.

 

Geralmente após os 7 anos a criança já compreende e raciocina, embora ainda não tenha maturidade para responder pelas suas acções. Difícil é diagnosticar os transtornos de conduta passageiros, normais nessa época, como atos de afirmação, controláveis pela paciência e educação, dos transtornos de conduta permanentes, maldosos e delinquentes, sintomas de uma personalidade psicopatológica genética, que ela carregará a vida inteira. Brigas violentas com coleguinhas, emprego frequente de mentiras para benefício próprio, insensibilidade ao sofrimento alheio, destruição sistemática de brinquedos, seus e dos outros, maltratar os animais com requintes de crueldade, desentendimentos permanentes com pais e professores, são sinais que devem ser observados com cuidado.

 

Já as causas sociais da violência da juventude são muitas e bem conhecidas: -Falta de estrutura familiar, de escola motivadora, interessante e interessada, de programas governamentais eficientes e permanentes para assistência à juventude carente, de futuro com perspectiva de vida digna, a ausência de valores espirituais que a fé supre e a religião ensina, a ignorância, a desistência escolar, a baixo-estima, o tédio, a dependência, as drogas, as frustrações, o analfabetismo, o abandono, os conflitos, a exclusão social, a busca ilusória da felicidade, a banalização da vida e das responsabilidades, mostrada na TV, nos filmes, na Internet. Enfim, a necessidade de ser visível, amado, respeitado, mesmo que para isso seja necessário usar da violência.

 

Os antigos gregos, que tanto influíram na elaboração das normas da educação do mundo ocidental, em especial os espartanos, preconizavam além do domínio do conhecimento pela mente, a fortaleza do corpo e espírito pelo sofrimento físico, hoje coisa só vista nas academias de fisiculturismo... Educar é uma arte que exige amor, sabedoria, conhecimento e paciência. Saber direccionar a personalidade, a sensibilidade, e a curiosidade da criança para seu crescimento humano e intelectual é um dom, é qualidade do bom educador. Se for através da imitação, da emoção, da experiência, na repetição e ritualização de palavras e atitudes que a criança aprende, é de primordial importância o exemplo de pais e professores. Num lar amoroso e respeitoso, a criança conhece a sua importância, se sente segura, aprende a lidar com os diferentes, a dar e receber, a ser cortês e participativo. As pequenas dificuldades e incidentes diários são preparação para a vida. Super proteger a criança é tirar-lhe a oportunidade de amadurecimento.

 

Ainda segundo os psicólogos, é na infância que as primeiras impressões e experiências marcam o subconsciente da pessoa, aquele sentido que lhe dará a visão própria do mundo que a cerca, o fundamento intuitivo da sua percepção no futuro. A educação vem para enriquecê-la, para moldá-la, para ampliá-la, nunca para substancialmente modificá-la. Daí a importância dos primeiros anos na vida de uma criança.

 

Quando chega a adolescência, a juventude com as insatisfações e buscas pela felicidade quimérica, aprende que tudo que era lindo de se ver torna-se doloroso no ato de ser. Percebe que para conquistar o mundo tem de estar preparada, ter na bagagem instrumentos adquiridos no passado infanto-juvenil. Quando isso não ocorre, contrariada a todo o momento pelas exigências da sociedade, se vê frustrada, procura preenche o vácuo da existência com o ter. Pobre de valores humanos, morais e espirituais, o jovem acha que para ser feliz precisa de consumir, de ter carro de ultimo tipo, de estar na moda, de ser visível. Revoltado, quer ser respeitado no ambiente em que vive a qualquer preço. Como não tem cabedal pessoal para conseguir o que deseja, muitas vezes busca através da violência o reconhecimento de que precisa para se sentir vivo.

 

Não basta o país se espelhar nos avanços tecnológicos e económicos dos países evoluídos para alcançar a qualidade de vida que a população almeja, é necessário investir na educação das crianças e dos jovens, daqueles que gerenciarão o futuro.

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, 26/08/2010

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