CHARLATANICE MATEMÁTICA
Numa das minhas habituais visitas à biblioteca da AIP deparei com um livro escrito por Michel Godet intitulado MANUAL DE PROSPECTIVA ESTRATÉGICA DA ANTECIPAÇÃO À ACÇÃO (ed. Publicações Dom Quixote, 1993) em cuja pág. 37 se pode ler:
A validade de um modelo depende da boa representação que faça dos fenómenos reais e não da sua abstracção ou da elegância da sua formalização. À força de simplificar a realidade pelo prazer de utilizar a matemática, acabou-se por transformar os modelos em esquemas deformadores da realidade. Convém aqui denunciar com Maurice Allais (1989), a «mathematical charlatanry» de que é vítima a ciência económica: «Desde há quase quarenta anos, a literatura económica contemporânea desenvolveu-se numa direcção totalmente errónea: o desenvolvimento de modelos matemáticos absolutamente artificiais e completamente desligados do real; e está cada vez mais dominada por um formalismo matemático que, fundamentalmente, representa uma imensa regressão».
Sim, já deparei com prospectivas baseadas em modelos que desconheço mas em que os resultados finais chegaram a registar desvios da ordem dos 400% e num outro caso a variável fechou em negativo quando se prospectivara um valor positivo. Quase me apetece dar vivas à regra de três simples.
Lisboa, Junho de 2005
Henrique Salles da Fonseca