O VELHO TRIBALISMO E O MODERNO CLIENTELISMO - 1
A propósito da morte do jornalista, escritor e historiador inglês Basil Davidson, revisitei um dos últimos trabalhos, que, em língua portuguesa, surgiu sob o título “O Fardo do Homem Negro – Os efeitos do Estado-Nação em África”, uma edição angolana da Associação Chá de Caxinde.
Sobre a questão étnica africana, Basil Davidson afirma que num sentido histórico bastante lato, “o tribalismo tem sido usado para exprimir a solidariedade e as lealdades comuns de pessoas que partilham entre si um país e uma cultura”.
Citando Crawford Young, considerou inócuo o tribalismo antigo e ao clientelismo de Estado apelida-o de moderno “tribalismo” em África.
Para Young, professor de Ciência Política da Universidade de Wisconsin (Madison, EUA), que em 1963 publicou um estudo sobre a experiência da edificação do estado-nação na actual República Democrática do Congo, as questões étnicas ligadas ao tribalismo sempre existiram em África ou em qualquer outro lugar. Para Davidson o tribalismo tem sido, muitas vezes, uma força do bem, que cria uma sociedade civil dependente de leis e de um Estado de Direito. Daí que, neste sentido, o conceito de “tribalismo”, para ele, pouco divirja, na prática, do conceito de “nacionalismo”.
Nacionalismo e patriotismo
(...) ao falarmos de “nacionalismo” ou de “patriotismo”, a rigor, não estamos a dizer a mesma coisa.
(...) a “nação” não é mais do que uma ideia ou representação e ela implica um passado comum do qual os membros da comunidade têm certa consciência. No conceito de nação, a unidade procura manifestar-se através de instituições comuns, é simultaneamente política, económica e, para os casos da grande maioria dos países europeus, normalmente cultural, já que para a grande maioria dos países africanos, devido à divisão de África na Conferência de Berlim (1884-1885), de acordo com os interesses das potências coloniais da época, dificilmente existe uma unidade cultural.
Por outro lado, (...) o conceito de “pátria” não está ligado a um conceito geográfico mas sim à vivência e convicções subjectivas do indivíduo. Na perspectiva sociológica, o conceito de pátria (...) está associado a atitudes psíquicas de um grupo social e corresponde ao que usualmente se designa por herança cultural desse mesmo grupo. Daí que as pessoas que partilham as mesmas experiências e apresentam os mesmos pontos de vista em relação à história do grupo, estão ligadas a uma mesma “pátria”.
Assim sendo e salvo melhor opinião, a similaridade mais próxima ao conceito de “tribalismo”, de acordo com a perspectiva de Basil Davidson, é o “patriotismo”, quer pelo associativismo no contexto de uma sociedade civil, quer por outros possíveis aspectos de ordem maioritariamente cultural e não o “nacionalismo” por razões de ordem maioritariamente política e institucional.
(continua)
Filipe Zau
in Jornal de Angola, 16 de Julho de 2010