OS FOGOS FLORESTAIS E O CO2
O país anda preocupado porque se obrigou a não ultrapassar uma certa quota de CO2 e parece não conseguir ficar abaixo desse limite.
Não sei como são feitas as medições nem que nível de precisão têm. Mas sei que os fogos florestais (hoje, em Portugal, mais do que noutros locais e do que eram antigamente) lançam na atmosfera quantidades astronómicas de CO2. E ainda há a acrescentar, especialmente para certas espécies de resinosas, mais uns quantos produtos nocivos.
Os nossos fogos florestais afectam o problema do CO2 de duas formas diferentes: uma é o CO2 lançado directamente na atmosfera, durante a queima das árvores; a outra é a quantidade, igualmente astronómica, de CO2 que deixa de ser absorvido da atmosfera pela floresta que ardeu e que só voltará a recuperar esse nível daí a vários anos quando (e se) estiver reconstituída.
É possível que estes factos estejam a ser considerados mas não me lembro de os ter visto referidos, quantificados e... corrigidos os erros! Pelo contrário, o que vejo é continuarem a ser cometidos os mesmos erros (de vez em quando ampliados), em vez de se fazer o que é elementar, como já chamei a atenção.
O caso dos fogos florestais é da competência do Ministério da Agricultura e não do da Administração Interna. Mas em Portugal, em que o Ministério da Agricultura anda há várias décadas a destruir a actividade que, por definição, devia desenvolver – até muita gente leiga detecta a diferença entre Portugal e a Espanha! – é possível que os fogos florestais façam parte desse programa de destruição, cada vez mais acelerado.
E nem o grave problema do CO2 – tanto o que é lançado na atmosfera durante o fogo, como o que não é absorvido nos anos seguintes porque a floresta foi destruída – chega para o Ministério da Agricultura e até o Primeiro Ministro – que certamente vai sofrer nas urnas as consequências da brutal redução que já causou no nível de vida da grande massa dos portugueses – perceberem os clamorosos erros que têm estado a cometer.
Portugal, com toda a área florestal que tem e mais toda aquela que devia ter – não me canso de chamar a atenção para a urgência de florestar a serra do Algarve – talvez fosse um dos bons contribuintes para a absorção do CO2 e se não acordasse tão tarde e tão incompletamente para as energias renováveis, em que é tão rico, talvez até estivesse em boas condições para “vender” quotas de CO2. Que tristeza pensar no que Portugal podia e devia ser e ver o estado em que o têm estado a pôr!
Miguel Mota*
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* Investigador Coordenador e Professor Catedrático, jubilado
Texto publicado na “Floresta e Ambiente”, Ano 19, Nº 76, Janeiro/Março de 2007