A chamada direita, que não inclui o PS e o governo mais à direita de todos desde o 25 de Abril, anda completamente desorientada.
Cavaco Silva não cometeu os pretensos erros que alguns lhe atribuem, como o totalmente inútil e até prejudicial veto do diploma, para suplantar o qual a nossa pobre Constituição não exige os dois terços dos deputados, como seria num país normal.
Se essa chamada direita não votar nele (que não tem sido a força de bloqueio que outros foram e manteve a isenção e verdades exigidas pelo cargo) já devia saber que vai continuar a mandar quem tanto já fez força a puxar pelo país para baixo.
E não deve ser esquecido que isso já vinha sucedendo em grande antes da segunda metade de 2008, quando a crise internacional passou a ser desculpa para a continuação do afundamento de Portugal, que até já foi ultrapassado por Chipre e por Malta.
Miguel Mota
Publicado no Diário de Notícias de 29 de Junho de 2010
Nota – A negro o que foi suprimido pelo jornal. Em vez de "suplantar o qual" escreveram "cuja suplantação".
3 comentários
Miguel Mota 04.07.2010 23:25
Ex.mo Senhor Luís Santiago, Não tem de me pedir desculpa, por ter opinião diferente da minha. Mas do seu Comentário fico com a impressão - em relação ao caso do veto, pois foi só desse que tratei - que ficaria satisfeito com o efeito "moral" de ter vetado, mesmo sabendo que a Assembleia da República obrigaria o Presidente a promulgar o diploma, uma humilhação infinitamente maior e que os seus adversários não deixariam de explorar até à saciedade. Isto porque temos uma Constituição perfeitamente aberrante e que, dando ao Presidente o direito de veto, se "esquece" de exigir - como em qualquer outro país normal - dois terços do total dos deputados para poder suplantar o veto presidencial e contenta-se com os mesmos que já o aprovaram e que, obviamente, voltariam a aprová-lo, com a tal maior humilhação resultante do Presidente ser obrigado a promulgar o diploma. Se, com esse pretexto - que eu, permita-me que discorde, é contentar-se com uma vitória "moral" e sem qualquer efeito positivo e, pelo que acima disse, altamente prejudicial - já dizem que não votam no Prof. Cavaco Silva, vejam qual é a única alternativa possível! Eu, que vivi bem esse tempo, não me esqueço do que era o bando de Argel. E, mais uma vez, uso a frase com que terminei artigos e cartas em jornais: "No futebol, ganhar moralmente não altera a classificação. Na política também não". Eu não sou especialista de ciência política. Mas fico abismado quando vejo os mais badalados politólogos a falar da "nossa democracia" (não sabem que numa democracia os cidadãos podem candidatar-se a deputados e votam em quem lhes apetece e não nas "listas" em que meia dúzia de pessoas lhes dão "licença") e a considerem "de esquerda" o PS e o governo que mais à direita tem governado depois do 25 de Abril. Mais pontos haveria a comentar no seu Comentário - que agradeço, até porque me deu oportunidade de aqui chamar a atenção para estes pontos - mas não quero alongar-me demasiado. Se lhe interessar e me quiser dar o seu e-mail, terei muito prazer em lhe enviar alguns outros escritos, incluindo uma "Proposta de Alterações à Constituição", com que pretendi ter no nosso país democracia, isto é, dando aos cidadãos a liberdade que hoje não têm, com o resultado bem patente no estado do país. Mais uma vez agradecendo, apresento os meus melhores cumprimentos. Miguel Mota
Senhor Professor, Muitos grandes Homens passaram por humilhações maiores do que esta a que se refere. Não se trata de "moral", - a "moral" é sempre discutível, dependendo do lugar da sociedade em que nos encontramos. Para mim trata-se de me colocar na posição que defendo, independentemente, se ganho ou perco e independentemente dos "interesses" ao meu redor; e, estando em causa o interesse nacional - porque a Nação não é de meia dúzia de "lobbies" à esquerda - eu lutaria por outro sistema democrático, aquele que o Srº Professor precisamente defende. E para termos outro sistema democrático, é urgente vetar tudo o que há a vetar, suportando as humilhações a que o dever público nos chamar, para apelar à Nação para a necessidade de alterar este estado de coisas; criar situações de ruptura, para que valores mais altos se levantem e um deles é a consciência de que não podemos pactuar mais com este embróglio criado por interesses de grupos, que apostam na inata passividade do Povo Portugês. Em qualquer sistema democrático permite-se a existência de todas as ideologias e o debate franco e aberto das ideias, mas, quanto à acção resultante das decisões, esta está limitada à vontade da maioria dos portugueses e não só de alguns portugueses. Não sei explicar-me melhor, mas é isto que penso e defendo. Quanto ao meu e-mail, vou pedir ao nosso comum Amigo Drº Henrique Salles da Fonseca que lho dê a conhecer e terei muito gosto em que troquemos correspondência. Com os meus cumprimentos, Luís Santiago