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A bem da Nação

AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL

 

 

No dia 26 de Maio de 2010 realizou-se no Auditório da Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, um encontro subordinado ao tema "Que Futuro para a Política de Desenvolvimento Rural", que ocupou o dia todo, das 9,30 horas até depois das 19 horas. Presidiu à abertura o Secretário de Estado das Florestas e ao encerramento o Ministro da Agricultura. Foi uma excelente reunião de trabalho, com pessoas de variadas formações e teve o grande mérito de mostrar que a actual equipa que preside aos destinos da agricultura é bem diferente da anterior, cuja actuação de deliberadas e vergonhosas destruições, principalmente no sector da investigação agronómica, causaram à ciência e à economia do país prejuízos fenomenais. Uma parte do estado desgraçado da nossa economia, das finanças, do desemprego, do défice, da balança comercial e da dívida (1) foi causada por essa destruição. Pena é que o estado lamentável das finanças – e da mentalidade de alguns sectores do governo – não permita ao actual ministro a velocidade de recuperação que ele mostra querer levar a cabo.

 

Numa intervenção que fiz durante os debates lembrei que, sendo a agricultura a actividade principal numa zona rural, o desenvolvimento dessa zona depende exclusivamente do desenvolvimento da agricultura, a actividade que nessa região é a principal fonte de criação de riqueza. Sem isso, o desenvolvimento rural só seria possível à custa de permanentes e avultadas injecções de dinheiro.

 

Lembrei mais – ou informei, já que essa verdade que considero elementar, parece ser desconhecida dos altos comandos do país, como se pode verificar pelo que tem sido a actuação dos nossos governantes – que o desenvolvimento da agricultura exige que o Ministério da Agricultura disponha duma investigação agronómica de alto nível e duma muito eficiente extensão agrícola, a designação que se dá hoje no mundo ao serviço que leva até aos agricultores os conhecimentos criados pela investigação e que permitirão ter uma agricultura cada vez mais eficiente e competitiva. E fiz votos para que, não só em Portugal, mas também na União Europeia, se invertam as políticas dos últimos tempos em relação à agricultura.

 

Quando se iniciou a CEE, ainda apenas com seis países, a Europa era deficiente em cerca de 50% de produtos alimentares. O caso era grave, não só sob o ponto de vista económico mas também da defesa, pois os povos são mais facilmente vencidos pela fome do que pelos canhões. Graças à acção dum ilustre agrónomo holandês, Sicco Mansholt, foi criada uma Política Agrícola Comum (PAC), para resolver essa deficiência. Para além duma política de preços, para ter efeitos imediatos (a CEE pagava alguns produtos agrícolas, como cereais, carnes e lacticínios a um preço um pouco acima do dos mercados mundiais e adquiria toda a produção), desenvolveu programas de investigação agronómica para melhorar a eficiência da agricultura europeia. Mesmo antes da adesão, Portugal recebeu algum desse dinheiro, que me permitiu adquirir um semeador e uma debulhadora para ensaios, para o Departamento de Genética, e alguns acessórios para o Laboratório de Microscopia Electrónica. Em anos mais recentes e graças a Comissários da Agricultura sem a capacidade necessária, a União Europeia foi diminuindo até as extinguir as verbas para a investigação agronómica, uma das causas do atraso da agricultura europeia em relação a outras como, por exemplo, a dos Estados Unidos. Assim, no final da minha intervenção, fiz votos para que imediatamente e também a partir de 2013, quando começará a segunda fase da PAC, a União Europeia compreenda o fabuloso investimento que é desenvolver a investigação agronómica.

 

 Miguel Mota

 

(1) Mota, M. – PIB, Défice, Inflação e Produtividade. Diário Económico de 24 de Janeiro de 2000

 

Publicado no “Linhas de Elvas” de 17 de Junho de 2010

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