BAFORDO
Do Dicionário Torrinha, edição de 1947, extraio que baforda é o nome atribuído a uma espécie de lança podendo também significar injúria. Não lhe conheço a etimologia mas confesso que, para meu gosto, é das palavras portuguesas foneticamente mais feias de que me lembro.
E de significado em significado, lá fiquei também a saber que bafordo era o nome por que eram conhecidos os torneios medievais no norte de Portugal, na Galiza, em Leão, etc. A esta palavra já lhe podemos reconhecer a etimologia mas não é pelo facto de mudar de género que deixa de ser do mais feio que aos meus ouvidos alguma vez soou na nossa doce língua.
Ambas soam a insulto. E dos piores! Mais ainda que hipotenusa.
E quando em 1140 os Exércitos de Afonso Henriques e de seu primo Afonso VII de Leão e Castela se encontraram em Valdevez para decidirem da vassalagem que deveria ou não ser prestada pelo português ao castelhano, conseguiram os eclesiásticos diplomatas em presença convencer os monarcas de que a Decisão Divina poderia ser a causa de um bafordo que substituísse batalha laica, desgastante e por certo aviltante para uma das partes.
Bafordo de Valdevez
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Assim se fez e o resultado foi divinamente favorável a Portugal cujo Exército era bem menor que o seu contrário. Ficou Afonso Henriques dispensado de vassalagem e terá sido então que Afonso VII decidiu pôr fim ao uso do título de Imperador. E essa decisão terá sido de tal modo convicta que por morte deixou o Reino de Castela a seu filho primogénito Sancho – que viria a ser o III desse nome – e o Reino de Leão a seu filho Fernando, o II desse nome.
Mais: passados anos o Rei de Leão reconheceu ao Rei de Portugal a nobreza e o estatuto suficientes para tomar a sua filha Urraca em casamento.
Não terá sido por uma questão fonética que Fernando II rejeitou Urraca dando o casamento por findo mas sim porque o Papa assim o determinou com base no argumento de que eram parentes muito próximos (filhos de dois primos direitos) apesar de já terem um filho que viria a ser Rei de Leão com o nome de Afonso IX, o Baboso – lindo cognome…
Teias duma Nação nascente, a portuguesa.
Maio de 2010
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: Mattoso, José – D. Afonso Henriques, pág. 179 – Círculo de Leitores, Ed. 2006