AS FASES DA VIDA
Foto: Arquivo particular
Dizem os psicólogos e filósofos que viver o seu tempo implica em adequar comportamentos às diferentes necessidades de cada etapa da vida. Viver a vida é aprender a lidar com perdas e ganhos, é fazer escolhas, seguir caminhos, é entender e aceitar as mudanças que marcam o nosso destino, quando não há mais volta.
Para a criança o passado é quase inexistente, foi ontem, ainda não deixou marcas suficientes para construir uma história. O presente se faz de uma maneira intensa, marcante, onde a cognição dá à criança aquele ar puro, abstracto, inocente, de quem olha o mundo pela primeira vez. O futuro é um largo e dilatado horizonte, onde não se vê o fim, só inúmeras possibilidades fantasiosas.
É na infância que percebemos e aprendemos a ver o que nos cerca, a conhecer pessoas e objectos de maneira clara, sem preconceito de qualquer espécie, de uma forma natural e intuitiva, livres de pensamentos volitivos. É nessa fase da vida que o cérebro procura incessantes novidades para se alimentar e desenvolver, para armazenar imagens e sensações na memória. No futuro isso lhe dará a consciência, a básica cosmo-visão, a compreensão que, junto à educação e à genética, a fará um adulto lúcido ou toleirão, um bom ou mau cidadão. Nos lares normais e estruturados é na meninice que se é mais feliz. O mundo infantil se resume a quadros familiares, teatrais restritos, repetitivos, exclusivos, onde a criança vive harmoniosamente protegida e suprida nas suas elementares necessidades.
Os anos passam, a criança cresce e se transforma num jovem em busca de identidade própria. Tem anseios e desejos, sonha, tem ilusões. É a idade das inquietações, quando se espera tudo do mundo, principalmente a felicidade. É o tempo das revoltas ao ver as injustiças, é quando se quer mudar o mundo, acusando-o da pobreza material e da vacuidade da sociedade. É nesse tempo que se entende que para se conseguir o que se quer é preciso abdicar de algo, fazer sacrifícios, lutar. É na juventude que se aprende que realizar sonhos tem um preço. É nessa época de vigor, de escolhas ainda não sedimentadas, de tentativas, de erros e acertos, que o futuro é possível.
À medida que se aproxima a maturidade pouco a pouco se fecham portas, diminuem as opções de vida, as alternativas profissionais. Não se decidindo, o homem acaba sendo levado pelas oportunidades ou pelas necessidades. Aos 40 anos está completo. É um profissional, tem uma posição social e responsabilidades familiares. É a fase das realizações, das conquistas, das vaidades. Mas também é a época das perdas, dos lutos, dos arrependimentos, das frustrações, quando a vida não lhe traz o que gostaria. Mudar de comportamento, de vivências, é cada vez mais difícil. A vida fica menos flexível, as oportunidades são menores, o campo de actividades mais restrito. Porém, se as energias vitais ainda são suficientes e se ainda tem “ fichas para gastar”, com ajuda do psicólogo, pode recomeçar.
O homem ao chegar a velhice está mais ilustrado, tem mais a oferecer que para receber da sociedade. Sabe quem é. Liberto das paixões, das tolas vaidades, não precisa disputar mais nada. Sabe que tudo um dia acaba. A vitalidade física cai, perde as ilusões, a memória apaga as más recordações, retém os bons momentos, como flashes. Fica o conhecimento abstracto subentendido na infância, conceitos e valores pessoais, visão do passado. A vida urge, encurta porque a memória do tempo rotineiro vivido aos poucos se esfumaça. O velho vivencia o que acumulou de conhecimento em si mesmo. Faz o que pode e depois esquece.... É a memória falhando. O que lhe importa ao final de seus dias é a segurança material, o carinho da família, o bem estar. À consumação das energias vitais, quando expira o seu tempo existencial, a morte natural passa a ser leve, até desejada como o descanso final.
Uberaba, 01/04/10