Da Guerra no Iraque
Segundo a imprensa oportunamente relatou, em plena Guerra do Iraque, um grupo de soldados americanos realizou uma missão espontânea (solo mission). Entrou numa casa de iraquianos suspeitos e liquidou uma família inteira que ali residia. Posteriormente, ao depor num inquérito sobre o assunto, um dos soldados que integrava o grupo declarou que "foi porreiro" (it was cool). Isto mostra como a guerra – esta ou qualquer outra – é um acto de violência e crueldade praticado contra gente inocente, tanto americanos como não americanos. E esta – a do Iraque – não só não foi necessária como representa pesada responsabilidade assumida pelos EUA pois que envolve alto risco em termos de vidas humanas, dinheiro e segurança mundial.
Na minha maneira de sentir, o Exército rouba a individualidade às pessoas. Considero inaceitável que um indivíduo armado de uma metralhadora se sinta no direito de abater todos os que não pensam, procedem ou falam como ele. Todos nós temos o direito, se não mesmo o dever, de seguir as nossas aspirações. O exército é perigoso pois pode servir como meio de que gente ambiciosa lança mão para impor os seus pontos de vista e defender os seus interesses pessoais. No momento em que se alistam, os recrutas renunciam à sua própria personalidade. Com o tempo, acabam por perder também o sentido de auto preservação, o que os leva a arriscar a vida em defesa de causas que não avaliam nem criticam. É nossa obrigação trabalhar e melhorar a nossa própria integridade e nunca devemos consentir que nos conduzam como peões num jogo de xadrez. Waldo Emerson disse: "Cada coração vibra como a corda de aço. Confia em ti. Ouve o som da tua corda e segue-o".
Milhares de milhões de dólares são anualmente gastos para custear guerras. Seria caso para pensar nos problemas na frente interna que requerem atenção. Não será absurdo gastar milhões e milhões de preciosos dólares no estrangeiro para matar americanos e gentes de outras nacionalidades, destruir cidades e famílias, praticar actos que só trazem má fama entre as nações do mundo, quando tais recursos poderiam ser aplicados na solução de problemas, tanto internos como internacionais, que contribuiriam efectivamente para a salvação de vidas humanas e para a criação de possibilidades e oportunidades para povos menos favorecidos?
A sociedade manipulou a nossa maneira de pensar. O medo foi disseminado e apoderou-se dos espíritos. Isso preparou-nos para abdicarmos do nosso auto controlo a favor de terceiros que se nos apresentam como elite. A partir desse momento, a nossa lista de prioridades altera-se. Voltando a Emerson, este previne-nos que " a sociedade por toda a parte é uma conspiração contra a humanidade e contra cada um dos seus membros".
Os primeiros governantes americanos ensinaram o povo a não se envolver em questões alheias. Eles sabiam o que diziam, mas os dirigentes de hoje não assimilaram correctamente tais ensinamentos. Os chamados "pequenos envolvimentos" americanos no Médio Oriente são causa de grande perturbação na política mundial. Sendo membros das Nações Unidas, uma guerra contra o terror (leia-se petróleo) com 10 anos de duração não favorece a imagem dos EUA. Além disso indispõe o Irão, a Coreia do Norte e a China que já de si não serão os nossos maiores amigões (biggest buddies), e prejudica a reputação americana, tanto na Europa como no resto do Mundo. Dir-se-ia que os EUA estão a juntar lenha para uma fogueira onde se podem queimar. Sendo os EUA o principal super-poder mundial, cabe-lhes a obrigação de dar o exemplo e esforçar-se por estabelecer a paz e a harmonia entre os seres humanos. Note-se: - não entre Chineses, Católicos, Americanos, Iraquianos, Turcos, Gregos, Britânicos, Gays, Pretos ou Brancos, mas entre Humanos. E, a propósito, lembro de novo palavras de Emerson: " A inveja é o produto da ignorância."
Nós vimos como se tomam as decisões erradas, como se desperdiçam vidas inestimáveis e dinheiro precioso para aumentar a confusão no mundo em que vivemos. Assassinam-se milhares de seres, de um e outro lado da barricada; desviam-se atenções e recursos para aplicações erradas e assim incrementa-se a perturbação das mentes dos povos e a inerente possibilidade – ainda que remota – de uma III Guerra Mundial. E tudo isto por causa do petróleo.
Eu peço-vos que escutem a vossa consciência interior e confiem no que ela vos diz em vez de confiar nesses políticos que se dirigem a vós, com um sorriso fascinante, aberto de orelha a orelha, que mal disfarça um evidente sentimento de culpa.
Lembrem-se de um episódio famoso. Há perto de cento e cinquenta anos, Henry Thoreau, poeta, discípulo de Emerson, recusou-se a pagar impostos porque o governo americano se envolveu numa guerra contra o México. Por mor dessa atitude, foi preso e, na cadeia, escreveu o seu famoso ensaio "Da Desobediência Civil" que inspirou Léon Tolstoi e, por via deste, Mahatma Gandhi. Ali proclamou que "governa melhor quem menos governa", ou seja, quem menos constrange os cidadãos e lhes tolhe a iniciativa.
Toledo, Ohio, 27 de Março de 2010
Tradução do ensaio apresentado por um estudante português, agora a finalizar o seu curso liceal numa High School americana, e ali discutido em aula.