BOM SENSO, PRECISA-SE!
Anunciam os jornais que o Ministro das Finanças acaba de nomear o Doutor Miguel Beleza para a Comissão de Vencimentos do Banco de Portugal (BdP).
Tenho pelo nomeado, que conheço pessoalmente, grande estima e a mais elevada consideração intelectual. Não ponho, nem ao de leve, em causa a sua probidade ética e a sua isenção profissional, que sei, de fonte segura, serem a toda a prova. Mas não esqueço que se trata de um distintissimo quadro de um grande grupo bancário português, onde ocupa, aliás - e certamente continuará a ocupar - posições do maior destaque. Teremos assim um administrador de entidades supervisionadas pelo BdP a decidir sobre quanto auferirão, como serão incentivados e que outros benefícios serão concedidos aqueles que as vão supervisionar.
Não esqueço, também, que o referido grupo bancário, pela sua crescente complexidade, não tem facilitado a vida à autoridade de supervisão, além de que a parcimónia não é, definitivamente, a sua maior virtude: de facto, nos três últimos anos, a massa salarial per capita aumentou mais rapidamente que o EBITDA corrente (ou seja, expurgado de resultados extraordinários ou não recorrentes); e o rácio cost-to-income teima em não baixar da barreira psicológica dos 0.55 (quando a eficiência internacional exige-o abaixo de 0.50).
Uma vez mais, o pobre Ministro, em matérias que recomendam reflexão ponderada, revelou precipitação e falta de senso.
A. Palhinha Machado
Julho de 2005