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A bem da Nação

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... mas, afinal, o que é a verdade?
 
Eis uma questão de resposta múltipla: se nos referirmos à verdade no sentido policial, trata-se da conformidade com os factos ocorridos numa certa circunstância que interessa à Polícia apurar; se nos referimos à verdade histórica, trata-se da que corresponde à hermenêutica; se nos referimos à verdade científica, por exemplo nas ciências da Natureza, trata-se de um ponto no infinito.
 
Uma palavra só e, contudo, suficiente para abarcarmos de uma única vez os três mundos coexistentes: o mundo das coisas; o dos estados de espírito, sentimentos; o das congeminações humanas, ou seja, das teorias.
 
No mundo das coisas não merece grande discussão o que é uma cadeira; a verdade histórica pode despertar sentimentos antagónicos tão fracturantes como os que estiveram na origem dos acontecimentos em análise e dar perspectivas diferentes da verdade conforme o lado em que se coloque cada observador; a verdade científica sobre a mecânica celeste foi uma novidade com a teoria de Newton mas passou a ser outra quando Einstein formulou as suas teorias sobre o espaço-tempo – e, mesmo assim, Einstein teve o cuidado de dizer que as suas teorias seriam válidas enquanto não aparecessem outras que as invalidassem…
 
Ou seja, temos três tipos de verdade: a material, axiomática; as do mundo espiritual, dos sentimentos; as que resultam da congeminação humana.
 
Mas da congeminação humana não resultam apenas bichos-de-sete-cabeças como essas teorias do espaço-tempo e outras que tais. Muito prosaicamente, a linguagem é o resultado da congeminação humana e, portanto, pertencente a essa terceira dimensão com que todos contactamos (os surdo-mudos têm a língua gestual que pertence ao mesmo mundo da língua oral – congeminação humana).
 
E como cada um de nós tem uma percepção relativamente exacta do mundo material que o rodeia, uma ideia aproximada dos seus próprios sentimentos e uma ideia mais ou menos objectiva ou mais ou menos vaga das teorias que toma como certas até prova em contrário, então temos que concluir ser cada um de nós o núcleo de três mundos concêntricos de dimensões tão limitadas ou infinitas quanto a teoria do espaço-tempo de Einstein permite conceber…
 
Mas as congeminações humanas são feitas em busca da verdade e, portanto, temos que reconhecer que essa verdade – por muito distante que possa estar do nosso alcance – existe de facto. Ou seja, as congeminações resultam de um esforço na busca da verdade final e, portanto, não são invenções mas apenas descobertas: a verdade existe por si e não pelo conceito que dela fazemos. Daqui resulta que os conceitos são transitórios e só a verdade é definitiva.
 
Cada mundo correspondendo ao tipo de conteúdo que encerra mas tendo como referência essencial a concepção subjectiva que o núcleo (cada pessoa) deles faz; com o desaparecimento físico do núcleo desaparece também a inerente concepção subjectiva e, assim, deixam também de existir as três dimensões a que o núcleo se referia. A menos que permaneça uma outra dimensão meramente espiritual, desencarnada, num outro mundo para que não dispomos de outra verdade que não a da Fé.
 
 
Lisboa, Fevereiro de 2010
 
 Henrique Salles da Fonseca
 
 
BIBLIOGRAFIA:
 
POPPER, Karl R. – EM BUSCA DE UM MUNDO MELHOR, Editorial Fragmentos, Ldª, 3ª edição, Novembro de 1992

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