PRODUZIR PARA NÃO IMPORTAR
“Só exportando mais será possível garantir um equilíbrio das nossas contas externas”, escreveu a Dr.ª Manuela Ferreira Leite no Expresso de 21-2-2009. Não é verdade. Não é “só exportando” mas também não tendo de importar o que devemos ser capazes de aqui produzir – e às vezes melhor e mais barato – que podemos equilibrar as “nossas contas externas”.
Um sector em que essa possibilidade é bem evidente é a Agricultura. Se não fosse a sistemática destruição a que tem estado submetida pelos governos das últimas décadas e com especial intensidade por este que ainda está em funções, não teríamos o vexatório panorama que vemos em qualquer supermercado. É lógico ter de importar bananas ou mangas. Mas encontrar os supermercados a abarrotar de batatas, cebolas, cenouras, alhos, alfaces, tomates, pimentos, feijão verde, melões, melancias, laranjas, limões, ameixas, pêssegos, nêsperas, maçãs, peras, uvas, morangos, etc. etc. etc. vindos, à vezes, de bem distantes terras, é uma das causas do desequilíbrio “das nossas contas externas”. É um erro bem mais fácil de corrigir do que aumentar as exportações. E, aliás, uma Agricultura eficiente também aumentaria muito as actuais exportações de produtos agrícolas.
A destruição da agricultura, começando no desmantelamento dos serviços do Ministério que são a alavanca do progresso e da agora muito em voga “inovação” – mais uma vez lembro a vergonhosa legislação dos finais de 2007 – e terminando na devolução a Bruxelas de avultadíssimas quantias, é uma das causas da nossa paupérrima situação económica e com graves efeitos sobre o PIB, a inflação, o desemprego e a balança comercial(1), afectando também o comércio e a indústria, a montante e a jusante.
Ao logo dos anos, muito tenho escrito sobre o tema e indicado o que há a fazer e que, aliás, é elementar. Tem sido um bradar no deserto e não vejo as mínimas perspectivas de sairmos do pântano em que têm estado a mergulhar o país.
Miguel Mota
Publicado no “Linhas de Elvas” de 5 de Março de 2009
(1) Mota, M. – PIB, Défice, Inflação e Produtividade. Diário Económico de 24 de Janeiro de 2000