TRIPPING POINT
Os EUA e a Europa, estandartes do mundo ocidental, conduziram o sistema financeiro internacional a um estado patológico que expõe de forma clara as fragilidades do seu próprio paradigma económico. A ideia de riqueza a crédito para usufruto no presente sem consideração pela sustentabilidade do futuro. A crise que se agrava corre o risco de por em marcha uma teoria de dominó de desfalecimento dos Estados, fundeados na dívida soberana. A União Europeia é posta à prova de forma intensa desde a proclamação da sua comunidade de identidade civilizacional, dos critérios de convergência e da noção de solidariedade. Pela primeira vez a conveniência de uma moeda única é desafiada pela desaparecida possibilidade de desvalorização cambial em nome da vantagem económica. As liras, os escudos, as pesetas e outras ex-divisas porventura serão agora lembradas com saudosismo. O Euro respresenta um enlace definitivo, para o bem e para o mal. A Grécia resiste à possibilidade de ser salva, e Portugal, Espanha, Itália, Irlanda, entre outros debilitados, sabem se a mão fôr estendida à Acrópole também terão de ser contemplados com um benefício extra. Os cortes orçamentais, a redução de salários, o prolongamento da vida laboral, o aumento de imposto são acendalhas eficazes para deflagrar o caos económico e social na totalidade do espaço europeu manchado com taxas de desemprego perigosas.
Os EUA padecendo do mesmo mal do endividamento e excessos orçamentais detêm uma pequena vantagem federal executiva extensível aos 55 estados. A federação existe de facto, mas simultaneamente exige entendimentos para desempatar as câmaras representativas. Encontramo-nos deste modo no reino da não confissão dos pecados – a situação é muito mais grave do que se julga e porventura não encontrará solução sistémica. Os antídotos disseminados de forma esbanjadora apenas adiarão o dia do juízo. A expansão monetária sem precedentes, declarada como inofensiva no contexto da reduzida utilização da capacidade produtiva, é uma velha receita conhecida na Weimar dos anos 30 e nos EUA dos anos 70. Faltará muito pouco para desequilibrar os pratos da balança. O dólar e o euro, deixaram de ser proactivos, para se converterem em amostras infelizes do estado insalúbre das respectivas economias que lhes dizem respeito.
A caminhada para a recuperação deixará de a ser. No seu lugar assistiremos ao emergir de outros conceitos económicos que não se equivalem necessariamente à ideia de Estado, representatividade ou governo. O poder ávido para repôr os mesmos actores, pertençerá a entidades híbridas desprovidas de ideologia, mas sedentas por encontrar as mesmas ferramentas de extracção de valor, quem sabe à custa dos mesmos desejos de materialismo e vaidade humana.
A revolução que esperamos talvez nunca venha a acontecer. Ou talvez nunca tenha sido sonhada.