ISTAMBUL – 5
Com a rendição no final na Grande Guerra, a ocupação aliada da Turquia foi uma realidade não apenas na perspectiva estritamente militar mas assumindo mesmo uma dimensão civil a ponto de, ao abrigo do Tratado de Sèvres (1920), o próprio Governo (civil) ter sido confiado às forças ocupantes.
Ao abrigo do referido Tratado foram estabelecidas zonas de influência dos vários aliados vitoriosos, determinou-se a independência da Arménia, o Curdistão adquiriu autonomia, internacionalizou-se a zona dos estreitos do Bósforo e de Dardanelos e a Grécia absorveu a Trácia e a zona envolvente de Esmirna.
O cúmulo do vexame turco foi a entrega da região de Esmirna à Grécia assim despoletando uma onda de nacionalismo naturalmente liderada pelo militar turco que mais prestigiado saira da guerra, Mustafá Kemal Paxá.
A participação activa de Mustafá Kemal Paxá no Movimento Nacional Turco começou com a sua nomeação em Maio de 1919 para o cargo de Inspector-Geral encarregado de supervisionar a desmobilização das unidades militares otomanas e organizações nacionalistas. Constatando de imediato que a independência turca estava a ser posta em causa, não hesitou: desertou do Exército em 8 de Julho desse mesmo ano e passou à clandestinidade, o que lhe valeu a condenação à morte.
A mobilização dos nacionalistas foi imediata e os confrontos militares contra os gregos tiveram um sucesso constante até à vitória total em 1922 com a Grécia a devolver todos os territórios que lhe haviam sido entregues pelo Tratado de Sèvres.De notar que nesta guerra, para além dos gregos, os arménios e os franceses também foram derrotados pelos turcos.
Reposto o poder político genuinamente turco, Mustafá Kemal Paxá e os que o acompanharam na luta pela restauração nacional decidiram abolir o Sultanato, proclamaram a República da Turquia e negociaram o Tratado de Lausanne ao abrigo do qual o novo regime turco foi internacionalmente reconhecido. Assim foi formalmente abolido o Tratado de Sèvres.
Foi então que a Mustafá Kemal Paxá passaram a chamar Atatürk, o Pai dos Turcos.
O processo de laicização e ocidentalização da Turquia começou imparavelmente assumindo grande relevância psicológica a proibição do fez (barrete otomano) que foi substituído pelo chapéu mole tipicamente europeu, foi proibida a poligamia, convocadas eleições gerais e constituído um Parlamento que votou uma Constituição ao abrigo da qual o Islão foi removido como religião do Estado, Constantinopla passou a chamar-se Istambul, as mulheres obtiveram o direito de voto e a capital foi transferida para Ankara.
Laicização e ocidentalização, palavras de ordem da República da Turquia
Foi a partir de então que Istambul passou a valer pelos seus méritos próprios e não mais pela força política que durante séculos os Senhores do Mundo nela exerceram.
Eis como chega ao fim a minha história sobre o nome de um rapazinho que se chamava apenas Mustafá e que todos os companheiros foram abandonando até que morreu isolado no Poder que edificou. O seu nome era então Mustafá Kemal (perfeição) Paxá (comandante) Atatürk (pai dos turcos).
Passados 72 anos da sua morte, o meu guia, o professor universitário[1] Dinç Tümerkan, referiu-se-lhe como um grande e venerado ditador que impôs a modernidade onde imperava o obscurantismo. Mas ele próprio admite que os Imãs, Ayatollahs e outros clérigos muçulmanos pensem de modo diverso…
Lisboa, Janeiro de 2010
BIBLIOGRAFIA:
Wikipédia