Ainda "O Barão"
Embora não seja versado em literatura, gostaria de aplaudir a homenagem aqui prestada ao escritor António José Branquinho da Fonseca com a reprodução de um trecho da sua obra prima - "O Barão". Não posso contudo deixar de notar como a mesma obra inspira leituras tão variadas.
O que encontro em "O Barão" são dois homens-universo, qualquer deles contido em si mesmo, indiferentes ao que os cerca. O inspector – mais ou menos contemporâneo – ainda que viaje, recusa-se a tomar conhecimento desse facto; o barão, medieval, nem sequer viaja e recusa-se a admitir – e muito menos assimilar – alterações no seu meio ambiente. São ambos intemporais e mentalmente estáticos. De início, estranham-se mas acabam nos braços um do outro, significando talvez que a substância humana prevalece sobre as circunstâncias de tempo e lugar. O ser estaria para além da circunstância. Estamos talvez perante uma negação de Ortega Y Gasset.
Enfileirar Branquinho da Fonseca no neorrealismo (ou aproximá-lo de) parece-me deslocado. O neorrealismo vivia da denúncia das injustiças sociais. A BF preocupava-o a natureza humana. Como a professora Berta Brás disse muito bem, "O Barão" não tem precedentes na literatura portuguesa. Não tinha escola. É único.
Estoril, 15 de Janeiro de 2010