ISTAMBUL – 3
Hagia Sofia - Sagrada Sabedoria
Quando terá sido que o homem descobriu Deus? Eis uma questão de resposta difícil se não mesmo impossível.
E quando foi que o primeiro sacerdote se constituiu arauto da palavra divina? Eis outra questão de resposta tão difícil como a anterior.
E quando foi que a classe sacerdotal tomou consciência de que podia controlar a sociedade a quem se dirigia? E quando foi que as religiões optaram pelo Deus castigador e vingativo ou pelo Deus infinitamente bom e do perdão?
E as perguntas poderiam continuar numa sucessão quase infinita não faltando respostas titubeantes ou mais acertadas …
Sim, foi dentro desta temática que Istambul viveu desde os tempos da sua fundação. Começando com o eventual animismo que reinasse naquelas paragens a ser substituído pelo politeísmo grego, com este a ser substituído pelo equivalente romano, com o cristianismo a impor-se como religião imperial, com este a dividir-se entre o romano e o ortodoxo, com ambos a alternarem na História e finalmente com a conquista muçulmana.
Istambul, a cidade a que os Deuses chamaram casa…
Não! Na realidade, Istambul foi durante séculos a arena em que se digladiaram as teocracias numa disputa de vida ou de morte para imposição do respectivo «teo business».
Interior de Hagia Sofia - construida em 537 por Justiniano como igreja, serviu nessa função durante 916 anos até que em 1453 foi transformada em mesquita e em 1935 passou à actual função de museu
Mas a bem da verdade, diga-se que nunca ali prevaleceu qualquer verdadeira hierocracia na certeza, porém, de que vontade não terá faltado às diferentes classes sacerdotais que a disputaram. Sempre estas tiveram que se juntar ao Poder e este sempre se foi apoiando nas religiões como modo de conter as gentes pela imposição de sucessivos códigos de conduta e pela ameaça da ira divina sempre mais temida que a temporal.
Eis como por ali sempre funcionou uma grande interdependência entre o Tempo e o Templo.
Até que na cadeira do Poder se sentou um antigo «jovem turco»: Mustafá Kemal Pachá, o que ficou na História conhecido por Atatürk, o Pai dos Turcos.
(continua)
Lisboa, Janeiro de 2010
Henrique Salles da Fonseca