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A bem da Nação

“Mea Culpa”

 

Hoje a nossa conversa foi de “mea culpa”. Fartámo-nos de nos penitenciar. Porque andamos sempre a apontar defeitos aos nossos políticos, porque os queremos com mais virtude, é certo, a nossa intenção é generosa, direi mesmo construtiva, e afinal não passa de um argueirozito insignificante aquele que vemos nos olhos deles, e no seu procedimento, porque bem maior é a tranca que descobrimos nos olhos e no procedimento dos povos que praticaram crimes de que se manifestam agora contritos. Até estranhámos que se tenham portado tão mal, pois, para todos os efeitos, são raças superiores que deviam ser mais comedidas nas suas acções, comedimento que a educação e a “Magna Charta” fariam prever que tivessem.
 
Hoje chegou a vez do ministro inglês, Gordon Brown pedir desculpa – só pelo Ano Novo, em todo o caso – às gerações perdidas dos meninos que há séculos – desde 1618, estou a seguir a notícia do DN – foram retirados aos pais e aos orfanatos e enviados para várias partes do Universo terráqueo pertencente ao Reino Unido – Estados Unidos, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, África do Sul e antiga Rodésia – aparentemente para viverem melhor, mas na realidade para fins de manutenção da raça branca qualificada nessas terras, embora sujeitos a abusos vários, com os seus pais desconhecedores do paradeiro dos filhos, estes, por seu turno, convencidos de que os pais tinham morrido, como lhes era afirmado, para cada um se conformar melhor com o seu destino.
 
Mas já as teorias do apuramento da raça, pelo menos da germânica também foram seguidas pelo próprio Hitler, com muito afinco, num ideal de pureza a que as próprias mulheres alemãs se sujeitavam com verdadeira adoração pelo Führer, e os Judeus que não conseguiram livrar-se, com, certamente, o terror natural perante um tratamento de demência.
 
Acho que algum dos chanceleres alemães actuais já pediu perdão aos Judeus pelo extermínio, e até o Papa João Paulo II o fez, não sei se de joelhos na terra de Israel, mas o nosso Mário Soares não lhe ficou atrás em pedido de desculpas – embora, naturalmente, sem genuflexão – pela nossa responsabilidade nos castigos e autos-de-fé económico-religiosos cometidos há uns séculos atrás.
 
Mas a primeira a dar o passo nessa coisa das desculpas às “gerações perdidas” foi mesmo a Austrália que, e transcrevo “vai pedir desculpas – já hoje – aos sete mil migrantes britânicos que ali sofreram abusos. O chefe do governo de Camberra, Kevin Rudd, irá recordar os “australianos esquecidos” e reconhecer os maus-tratos a mais de 500 mil crianças mantidas em orfanatos entre os anos 1930 e 1970”.
 
Nós ambas até comentámos sobre a relativa bonomia em que vivíamos nas terras que os antigos descobriram, ao contrário do que os Mários Soares de cá quiseram propalar relativamente aos colonialistas fascistas, mas isso são águas passadas.
 
Um dia – se lá chegarmos, isto é, se ainda a velha nação valente fizer parte do mapamundi – talvez algum ministro ou presidente da nossa República peça perdão também às gerações perdidas dos nossos pseudo-estudantes de agora, mártires da nossa incúria educativa, carrascos actuais no seu comportamento discente, consequência da nossa idiotia educativa ministerial.
 
De mão dada com o facilitismo não estará a ocorrer um
holocausto cultural em Portugal?

 

 
Um dia alguém irá pedir perdão às nossas gerações perdidas. Há sempre algum Noé que se salva nos dilúvios, para o acto de graça de pedir perdão.
 
Berta Brás
 

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