ISTAMBUL – 2
No século III a. C. houve uma grande migração de gauleses para oriente. Percorreram a Europa, atravessaram a Grécia e chegaram à Ásia Menor em cuja zona central, a Capadócia, assentaram assim formando uma região que se passou a chamar Galácia. Os seus habitantes passaram a chamar-se gálatas (do grego Galátai, ou seja, gauleses) e erigiram como capital uma cidade a que chamaram Ancyra, a mesma a que hoje chamamos Ancara.
Algures na História, um grupo relativamente numeroso de gálatas abandonou a Ásia Menor e estabeleceu-se na margem europeia do Bósforo. Mais concretamente, no promontório que inicia a margem norte do Corno de Oiro. Ponto estratégico para o comércio, clima relativamente ameno, comunicações fáceis, enfim, o verdadeiro centro do mundo de então.
Integrados no Império Bizantino, ali fizeram a sua vida até que se iniciaram as Cruzadas e por volta de 1100 da nossa era tudo se complicou. De facto, o Imperador Aleixo I Comneno pediu aos genoveses que o apoiassem com uma frota naval na luta contra os muçulmanos mas os «italianos» só acederam ao pedido mediante a outorga duma área na qual se pudessem estabelecer perenemente. Os gálatas não foram expulsos do seu promontório mas o Imperador obrigou-os à convivência com os genoveses que ali passaram a mandar.
A torre, chamada inicialmente Christea Turris, foi construida em 1348 como parte da expansão da colónia genovesa de Constantinopla. Tratava-se da construção mais alta das fortificações que rodeavam a cidadela. A torre actual não é a mesma que a antiga, originariamente bizantina, chamada Megalos Pyrgos e que controlava o extremo norte do mar para a entrada do Corno de Ouro. Encontrava-se noutro local mas foi destruída durante a Quarta Cruzada, em 1204.
Eis por que aquela zona de Istambul se chama Gálata e seja igualmente conhecida como «bairro italiano». O predomínio cristão católico romano passou a prevalecer sobre o cristianismo ortodoxo e ainda hoje é ali que se mantêm as igrejas católicas abertas ao culto.
Igreja de Stº António
A título de mera curiosidade, refira-se que em turco palácio se diz «saray» e que terá sido num palácio deste bairro que nasceu o famoso Galatasaray tão conhecido dos futebolistas e seus adeptos. Nunca me passaria pela cabeça referir esta simples curiosidade se na Turquia o futebol não tivesse a importância que efectivamente tem. Lá, como cá, o clubismo é motivo de paixões e antagonismos; lá, como cá, o futebol serve os políticos às mil maravilhas para distrair o povo das misérias deste mundo.
Avenida Istiklal,
o centro cosmopolita
(continua)
Lisboa, Janeiro de 2010
Henrique Salles da Fonseca