DA LUSOFONIA
Há bem poucos anos, principalmente depois de a língua portuguesa ter sido declarada língua oficial dos seis novos Estados que antes eram províncias ultramarinas portuguesas, que em vários sectores, tanto públicos como privados, vem sendo frequentemente usada a palavra Lusofonia, palavra essa que não era usada por quem quer que fosse e nem aparecia em qualquer dos múltiplos dicionários de língua portuguesa, publicados até, pelo menos, meados do último século.
Entretanto, foram aparecendo as necessárias estruturas organizativas como sejam a título de exemplo, a CPLP, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, a União das Cidades Capitais Luso-Áfrico-Américo-Asiática, o recém-constituído Instituto de Cultura Lusófona com sede em Itabira, Brasil, a Associação Etnia com sede em Cabo Verde, tendo em vista o desenvolvimento e a plena vivência da Lusofonia.
E o que significa então e qual o alcance e razão de ser dessa nova palavra Lusofonia?
Etimologicamente Lusofonia significa fala dos lusos, fala dos portugueses. Mas em Lusofonia cabem todos quantos habitualmente falam, escrevem, pensam e em português comunicam com os demais, qualquer que seja o lugar ou o país em que se encontrem. Lusofonia, como se refere no Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia de Ciências de Lisboa publicado em 2001, é também a “qualidade de ser português. O que é próprio da língua e da cultura portuguesa. Comunidade formada pelos povos que têm o português como língua materna ou oficial. Difusão da língua portuguesa no mundo”.
Lusófonos seremos, portanto, todos nós quantos, falando a língua de Camões, sentimos que algo temos em comum, de idêntico mas também de diferente de todos os outros que habitualmente falam outra língua e com ela se identificam. E assim Lusofonia não poderá deixar de ser um diálogo em língua portuguesa, um intercâmbio de povos e de culturas que há séculos, muito têm de comum e cujo principal elo ou suporte é precisamente essa secular língua que todos nós falamos.
Mas por Lusofonia poderemos também entender o conjunto dos oito países de língua oficial portuguesa e suas correspondentes identidades culturais, países que de certo modo têm um passado comum. E nesse conceito poderemos também incluir algumas regiões em que a língua portuguesa é também utilizada como língua materna ou de património e nessa mesma Lusofonia devemos ainda incluir todos aqueles que a residir em qualquer parte do mundo, consideram como sua própria língua a língua portuguesa e através dela comunicam uns com os outros.
Lusofonia é desse modo “uma pátria comum onde as diferenças se completam numa unidade de iniciativas em face da pressão cada vez maior da globalização, impedindo assim os efeitos descaracterizadores desta, preservando e valorizando o que cada país sozinho não podia realizar, sobretudo em fóruns internacionais” (Fernando Cristóvão, Da Lusitanidade à Lusofonia, pgs. 109).
Lusofonia, terá assim de ser um diálogo, uma convivência, um constante intercâmbio em língua portuguesa, tendo na base como argamassa e como elo que a todos nós une, a secular cultura lusíada, no entendimento de que as suas verdadeiras raízes estão justamente nos descobrimentos dos portugueses nos séculos XV e XVI, numa altura em que a língua portuguesa, a primeira a chegar às costas de África, passou a ser e foi durante largas dezenas de anos, a principal língua de comunicação internacional entre todos os povos do mundo, muito antes das línguas francesa e inglesa que só vieram a sê-lo muito anos depois.
E é obrigação de todos nós quantos nos consideramos lusófonos, ante a cada vez mais insistente e por tantos outros desejada globalização, defender a Lusofonia, começando por defender e se possível exigir aos oito países de língua oficial portuguesa uma eficaz vontade política de aproximação, de cooperação, de intercomunicação cultural e até mesmo económica e de unidade entre todos eles, tendo precisamente em vista e para bem de todos, a defesa da referida Lusofonia.
Para tanto e como por muitos vem defendido, importa também combater e impedir certas confusões com outras línguas, designadamente com a castelhana, evitando que a língua portuguesa possa ser considerada por alguns, verdadeiros ignorantes, e já o tem sido, uma língua dependente dela ou um seu simples dialecto, como o poderão ser, por exemplo, as línguas galega, catalã e a basca.
Por outro lado, todos os países de língua oficial portuguesa deverão defender e promover a colocação de professores de português e a criação de leitorados em todos os países, regiões ou cidades em que existam colónias de povos de língua oficial portuguesa, sem atentar nas suas cores de pele, na sua religião e nas particularidades das suas culturas, a todos concedendo, especialmente aos jovens, o direito de frequentarem gratuitamente aulas de português e de cultura lusíada.
E também por muitos tem sido defendido que a todos nós ditos lusófonos e a todas as agremiações de falantes de língua portuguesa e principalmente a todos os oito países de língua oficial portuguesa, incumbe o dever de promover a defesa, a expansão e o prestígio da nossa língua, patrocinando a publicação, a tradução e difusão por todo o mundo de obras literárias e mesmo científicas e artísticas, de importantes, consagrados e conhecidos autores de língua oficial portuguesa.
Actuando por este modo em defesa da Lusofonia, defendemo-nos a nós próprios falantes da língua portuguesa, defendemos a nossa identidade de pessoas e de povos, o nosso modo de ser e de estar no mundo e impedimos que outras culturas e outros povos nos subjuguem e nos dominem cultural e economicamente ou mesmo politicamente, como alguns ostensiva e claramente defendem.
Lisboa, 26 de Fevereiro de 2009
O Presidente do Elos Internacional*
Alcindo Augusto Costa
* - Na Convenção do Elos Internacional realizada em Lisboa em Outubro de 2009 foi eleita a CE Maria Inês Botelho para o exercício da presidência do Elos Internacional