ÉTICA LUSÓFONA E SENTIDO DE ESTADO – 4
4. … PARTAMOS RUMO AO FUTURO…
… pois é natural a ânsia de progresso e o imobilismo não pode ser o centro do nosso panegírico.
Temos o direito de subir e temos a obrigação de promover a subida dos que nos rodeiam. Valorizemo-nos e deixemos que os outros se valorizem para podermos dizer como Nelson Mandela que “a educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal. É através da educação que a filha de um camponês se pode tornar doutora, que o filho de um mineiro se pode tornar chefe de uma mina, que o filho de trabalhadores agrícolas pode vir a ser Presidente de uma grande nação. É o que fazemos do que temos, não o que nos é dado, que distingue uma pessoa de outra.”
Mas façamo-lo cumprindo os valores da Ética.
Essa, a missão que se espera das elites e, mais concretamente, ao que devemos conduzir as elites lusófonas: a educar seguindo um conjunto de princípios éticos de inspiração universal mas sem descurar o enquadramento étnico tanto local como nacional de cada País de Língua Oficial Portuguesa.
Chamemos-lhe EDUCAÇÃO CÍVICA ou outro nome que possa ser mais consensual, discutamos o conteúdo programático duma tal disciplina curricular do Ensino Oficial mas não deixemos a juventude sem um rumo ético como sucede na actualidade. É que, mais perigoso do que viver numa sociedade imoral, é deixarmos que se forme uma sociedade amoral. Esta questão é tanto mais grave quanto os pais se demitiram da função educativa dos filhos deixando essa tarefa para os professores, função para que estes não estão formalmente preparados e quando muitas vezes nem conseguem dar o programa curricular que lhes está consignado em matérias mais prosaicas do que éticas.
Professores que estão hoje no fio da navalha em que se transformou a sociedade actual. Lembram domadores de feras pois deixaram de ter como principal missão ensinar o programa oficial e passaram a ter que domar umas criaturas que os pais largaram na praça pública aos gritos de que tudo lhes é devido, que a tudo têm direito sem esforço. Foi disso que os demagogos convenceram os pais e estes transmitiram aos filhos todas essas irresponsabilidades transfiguradas em direitos.
É claro que agora o esforço de retorno à vida responsável, ao inadiável realismo, vai ser um processo muito doloroso e os primeiros a dar de frente com o problema são os Professores. E como os pais não perceberam que a vida de irresponsabilidade que o regime de laxismo lhes incutiu já acabou, revoltam-se e … vão às Escolas bater nos Professores. E quem não consegue bater-lhes, calunia-os, nomeadamente na Internet.Entretanto, conduzida a Justiça a um estado de evidente inoperância, isso sugere aos caluniados que não actuem pelas vias que seriam utilizadas numa qualquer sociedade em que a ética da responsabilidade fosse um valor no activo.
Sem sombra de dúvida, educar é hoje uma missão muito difícil.
E como afirma Bento XVI, todos os pais se preocupam com o bem dos filhos. Sabemos que depende deles o futuro da sociedade e não podemos deixar de fazer o melhor pela formação das novas gerações. Temos que lhes dar uma forte capacidade de se orientarem na vida e de distinguirem o bem do mal.
A ruptura entre as gerações de que tanto se fala, resulta da não transmissão de certezas e valores. Resulta da solução de continuidade que foi criada pela renúncia daqueles que deviam assumir a função educativa: os pais.Estão em causa as responsabilidades pessoais dos adultos, que são reais e não devem ser escondidas, mas também uma atmosfera difusa, uma mentalidade e uma forma de cultura que fazem duvidar do valor da pessoa, do próprio significado do bem. Então, torna-se difícil transmitir de uma geração para a outra algo de válido e de certo, regras de comportamento, objectivos credíveis com base nos quais construir a própria vida.
Estas dificuldades são a outra face da moeda que é a liberdade e esta constitui uma relação biunívoca com a responsabilidade. A liberdade de cada um de nós cessa onde começa a do nosso vizinho e se queremos ser livres, então temos que assumir a responsabilidade dos actos que livremente praticamos. Só é responsável quem é livre e a actual irresponsabilidade não é atributo por que devamos pugnar.
Contrariamente ao que acontece na engenharia ou na economia onde os progressos actuais se podem somar aos do passado, na formação moral e na prática ética não existe essa possibilidade de acumulação. A liberdade é sempre nova e portanto cada pessoa e cada geração deve tomar de novo, directamente, as suas decisões. Também os maiores valores do passado não podem simplesmente ser herdados: devem ser assumidos tanto no plano individual como no colectivo.
Mas quando as bases são abaladas e faltam as certezas fundamentais, a necessidade desses valores volta a fazer-se sentir. E é disso que aqui tratamos: de uma educação que o seja verdadeiramente e não se limite ao simples débito de programas curriculares de mera base científica, sem qualquer orientação pró-ética. Felizmente há pais preocupados e muitas vezes angustiados com o futuro dos próprios filhos; muitos são os professores que sofrem com a degradação das escolas; a sociedade, no seu conjunto, vê postas em dúvida as próprias bases da convivência; e muitos são por certo os próprios jovens que não querem ser deixados sozinhos perante os desafios da vida.
(continua)
Bragança, 2 de Outubro de 2008 – VII Encontro da Lusofonia