LUSOFONIA – 4
UM CONVITE AO SIGNIFICADO
A DIÁSPORA
Chegados às arribas, eis o limite inultrapassável. E como já não havia fuga possível, começaram os problemas de meter num pequeno espaço tanto fervilhar de vontades inquietas.
Alcandorados entretanto uns quantos à tarefa do mando, cumpriu a cada um garantir a sobrevivência do seu próprio feudo daí resultando na época medieval uma nobreza turbulenta mas entretida com a reconquista cristã. Mas quando em 1249 cai o último reduto árabe do Algarve, Silves, Portugal assume o actual território continental e ficam os irrequietos sem mais com que se entreter do que com quezílias intestinas.
Se a esta inquietude somarmos um clero de duvidosa formação doutrinária e moralmente desleixado, não encontramos motivos para deixar de compreender que tanto os camponeses como os pescadores fossem laboriosos à custa do embrutecimento a que foram remetidos por quem assim os queria para não levantarem ainda mais problemas do que os que já existiam.

Como muito mais tarde viria a dizer Eça de Queiroz, a esta mole ignara somava-se uma população urbana de artesãos e servos que constituía uma «plebe beata, suja e feroz». E esta população urbana abandonara os campos em fuga da miséria ou a caminho do anonimato na escuridão de becos e azinhagas já que dois terços do solo português não têm qualquer vocação agrícola por serem esqueléticos, rochosos ou escarpados. E se a esta realidade somarmos um tenebroso regime pluviométrico de seca e enxurrada, bem se compreende que a escassa população medieval do Reino – um milhão, no máximo – era excessiva para a exploração das riquezas naturais do território.
Com permanente borbulhar de mentes inquietas em cenário de miséria interna e acossado pelo vizinho que não lhe perdoa a autonomia, Portugal só descobre então uma hipótese de sobrevivência: a conquista de além-mar.
Assim chegámos ao século XV.
Eis-nos de novo em tal situação neste início do XXI.
Sim, também hoje temos na diáspora o preço a pagar pelo Centro.
Bragança, 5 de Outubro de 2007 – VI Encontro da Lusofonia