UM CONVITE AO SIGNIFICADO
A DIÁSPORA
A cultura portuguesa tem hoje uma dimensão universal pois tivemos que nos fazer à vida – e ao mundo – para ganharmos a dimensão necessária à salvaguarda da Soberania Nacional. E essa dimensão universal desmaterializou-se pois subsiste mesmo já depois de confinados ao território permitido.
Assim, foi pensando em Pasárgada que construímos um Império mas foi na realidade da vida que mantivemos a nostalgia da terra natal, ela também entretanto miragem do lugar longínquo, lura para o regresso sonhado.
Eis o caminho da diáspora e o do regresso, o sentimento do centro, o culto da origem, a que ganha dimensão com a periferia. Assim andam os portugueses numa permanente peregrinação entre lá e cá.
E donde vem esse “formigueiro” que nunca nos deixa parar?
Se o povoamento da Europa se fez a partir do Levante como rezam as crónicas, das hordas que chegaram da Ásia seguindo a rota do Sol foram-se uns quantos fixando no caminho e seguindo em frente os demais. Ficavam os que entendiam que para eles bastava de aventura; seguiam os que queriam mais ou que não se acomodavam às normas sedentárias entretanto estabelecidas. Sede de aventura e inconformismo dá uma mistura que não é compatível com a pacatez dos sossegados. E se isto foi acontecendo ao longo dos milhares de léguas que distam da foz do Danúbio ao Cabo da Roca, fácil será compreender o grau de apuramento a que a dita mistura levou os que alcançaram o extremo ocidental e se debruçaram das arribas sobre o mar, nesta parte do mundo a que nos tempos megalíticos chamariam Ofiuza, a terra da serpente.
Aqui, onde a terra acaba e o mar começa...
Talvez seja esta a explicação para o queixume do romano Augusto quando se lastimava de que cá nos confins da Ibéria havia um povo que não se governava nem se deixava governar…
(continua)
Bragança, 5 de Outubro de 2007 – VI Encontro da Lusofonia
Henrique Salles da Fonseca
Também se diz que a virtude está no meio, por isso não acredito nesse tal apuramento dos do extremo ocidente, tudo rebelde a normas, todos preferindo a amizade do rei de Pasárgada, que é a melhor forma de libertação das responsabilidades...
Berta Brás
De Adriano Lima a 29 de Novembro de 2009 às 15:42
Belo pensamento e rica expressão literária.
Quase se pode dizer que a diáspora nos fez perder a noção do centro e o verdadeiro sentido de nós mesmos, tal a força centrífuga da longínqua e sedutora periferia. Extinto o império, ainda não soubemos regressar a casa e arrumá-la em função de outras conveniências e desafios, relegando a saudade do longe para as páginas da literatura e do devaneio poético. Importa é saber se a fuga diaspórica de outrora foi o impulso de uma condição genética ou se apenas resposta a uma realidade instante. Mas, a fazer fé nas palavras atribuídas a Gaius Julius Caeser, “nem se governam nem se deixam governar”, teremos de ver se não há efectivamente um fatalismo genético a explicar manifestações comportamentais que dificultam a nossa normal inserção comunitária. Que seria precisamente a razão da nossa fuga, para, em vez de nos olharmos pelos nossos olhos, preferirmos ver-nos no espelho do olhar dos outros.
Obrigado Senhor Coronel pela correcção subtil de César em vez de Augusto. Vou corrigir no original.
Resta a desculpa de que César também foi augusto no sentido magestático.
De Adriano Lima a 29 de Novembro de 2009 às 23:52
Prezado Doutor, fique claro que não o quis corrigir. Não o podia fazer porque não há sequer certeza sobre a figura do Império Romano que proferiu tal afirmação. Uns dizem apenas que foi um imperador romano, outros que foi o Gaius Julius Caeser, outros que foi o pretor Asínio Polião. Sabe-se que César foi nomeado governador da Hispânia Ulterior em 61 a. C., tendo tido especiais problemas com o núcleo da resistência instalado nos Mons Herminius (Serra da Estrela). E sabe-se também que Asínio Polião se seguiu a Caeser na governação da Hispânia Ulterior e que enfrentou muitas rebeliões da Lusitânia mesmo depois da pacificação conseguida por Caeser. Mas diz-se que a afirmação foi escrita em carta dirigida a Roma em que a ilustre pessoa pedia substituição ou manifestava vontade de regressar precisamente por estar farto do tal povo que “nem se governava nem…” Mas Julius Caeser é o mais citado como autor da frase. Talvez um comentarista historiador esclareça melhor.
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