VIVER A VIDA

Dentro da visão cultural ocidental, a morte sempre foi vista como um mal a ser combatido. Morrer, perder um ente querido, um amor, um emprego, algo material ou uma posição social, são situações para as quais não somos treinados para encara-las como coisas naturais da vida. Desde que abrimos os olhos e passamos a perceber o que nos rodeia somos programados para tê-las, não para perdê-las.
Mas, como diz a música de Vinicius de Morais e Toquinho, Sei lá... A vida tem sempre razão, quando nascemos, começamos a morrer. Não há perdas sem ganhos, não há ganhos sem perdas. E é assim no viver. Morremos e renascemos todos os dias, através das nossas células, num se repetir, “ad eternum”, como um xérox biológico que se apaga pouco a pouco com o tempo, trazendo outros contornos, até desaparecer. São as mudanças e transformações que aparecem no nosso corpo, no entanto, na mente, permanece a ideia inalterada do EU, da individualidade do Ser. Perdemos as formas de criança, ganhamos as de adolescente, de adulto e de velho, num perde e ganha, alternadamente, até que, como todos os seres viventes, desaparecemos e voltamos à terra para fazer parte dela novamente.
Ter medo de morrer, de como a morte virá nos recolher é natural, é o medo do desconhecido. Porém, devemos procurar entender que a morte faz parte da vida e que ela deve ser aceita, mesmo com tristeza, quando não há mais jeito de evitá-la. Mesmo os profissionais da Medicina têm dificuldade em administrar esse facto. Com remédios e procedimentos cada vez mais sofisticados, muitas vezes postergam a morte do indivíduo, mantendo as funções vitais por aparelhos, quando o cérebro já morreu. É a tecnologia querendo ser Deus. Devemos reaprender com os antigos, a respeitar a natureza, quando não há mais condição digna de vida, a aceitar o direito humano à ortotanásia.
Prolongar a vida, não é adiar artificialmente a morte. É simplesmente criar a ilusão que podemos enganá-la, posterga-la, que somos “temporariamente” imortais. Bom mesmo é viver a vida, da melhor maneira possível, sendo felizes e fazendo os outros felizes, lembrando todo o dia, ao abrir os olhos, que a nossa companheira inseparável está ali, ao nosso lado, esperando, para nos tornar eternos.
Uberaba, 22 de Novembro de 2009.