DOS PRINCÍPIOS E DA SUA FALTA

As Finanças são a perspectiva mais evidente da crise por que globalmente passamos.
Contudo, isso não passa de uma consequência de causas remotas de que pouco se fala. E também essa evidência tem consequências igualmente evidentes tais como as de índole económica sendo, dentre todas, a mais dramática, o desemprego.
E quais são, então, as causas estaminais? A falta de ética e a amoralidade dominante.
A Moral tem a ver com os princípios enquanto a Ética se reporta aos factos.
O sentido de obrigação moral provém fundamentalmente de quatro fontes:
- Da consciência pessoal de formação tanto laica como religiosa que leva os indivíduos a tentarem alcançar um sentido de integridade e consequente tranquilidade perante a sua própria consciência;
- Das regras comuns que a sociedade exige aos seus membros – por exemplo, todo o quadro legal;
- Dos códigos de ética profissional;
- Das expectativas convencionais inerentes aos deveres de um indivíduo.
Se por acaso alguma destas fontes seca, mingua ou se polui, o sentido de obrigação moral é automaticamente abalado nos seus alicerces, a atitude ética dilui-se e a sociedade fica desgovernada e desprotegida.
Eis as verdadeiras causas da actual crise.
Para a ultrapassar não basta regulamentar os mercados e construir códigos de ética profissional por muito férreos que se apresentem. Há que recuperar o sentido do dever individual por contraponto à panóplia de direitos e outras benesses que os demagogos apregoaram para ganharem eleições; há que reintroduzir conceitos que claramente recuperem o sentido do bem-comum; há que não hesitar na identificação do mal-comum. Só reformatando as consciências se poderá ultrapassar a actual crise que resulta da amoralidade reinante.
E os princípios em falta nem sequer necessitam de fundamentação divina. Basta que a cada um se faça saber desde a tenra idade que as mordomias se conquistam com esforço, por contrapartida do contributo que cada um dá para o bem-comum da sociedade em que se integra.
Sem cairmos na rudeza do princípio de «a cada um segundo a sua capacidade», não nos mantenhamos monoliticamente no de «a cada um segundo a sua necessidade» pois isso transformou-se na actual prática de «a cada um segundo a sua vontade». Mais prosaicamente, há deter a actual prática do «fartar vilanagem» em que o politicamente correcto é «laissez faire, laissez passer». Não é!
Novembro de 2009
BIBLIOGRAFIA:
Nye Jr,Joseph S.– LIDERANÇA E PODER, – Gradiva, 1ª edição, Abril de 2009