PENSAMENTOS MATINAIS - 6
A arte de envelhecer
Para De Gaulle, “a velhice é um naufrágio”. Para Anselm Grün “a velhice é a libertação” (da pressão dos outros). Finalmente, para Carl Gustav Jung, velhice deveria ser renovação mediante regresso à natureza: - “um idoso que não é capaz de escutar o murmúrio do riacho que corre da montanha até ao vale, o sussurro da brisa na folhagem do arvoredo, de cheirar o rasto da raposa que por ali passou, de se deleitar com o canto da toutinegra e o arrolar das rolas é um tolo, uma múmia espiritual congelada no passado. Repete tudo maquinalmente até à mais ínfima banalidade”.
Quem tem razão?
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Receitas de felicidade
O frade beneditino disse: - “Feliz é aquele que acredita no que faz”. O sábio pós-modernista diria: - aquele que de si troça é o único que consegue libertar-se do peso avassalador do ego e assim tornar-se livre e feliz como uma gaivota.
Nesta matéria, eu sou pós-modernista.
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Remorsos imperiais
Mais um livro – o de João José Brandão Ferreira, Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa – em que autor e prefaciadores atribuem responsabilidades – colectivas e individuais - pela queda do Império lusitano. Mordem neste ou naquele, disparam para aqui e para acolá. É próprio da sua natureza.
E isto tudo para quê? Não vale a pena chorar sobre o Ultramar “derramado”. O império não volta. Nunca mais! Mas ficou lá alguma coisa. Os africanos precisam de nós e mais agora do que dantes. Será talvez aí que valeria a pena assentar os caboucos de um projecto nobre.
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Franco, o invasor
O historiador espanhol Manuel Ros Agudo escreveu um livro e pronunciou uma conferência revelando ao mundo a sua "descoberta" do plano militar que Franco teria encomendado para invadir Portugal, em finais de 1940. Segundo Ros, Franco queria apossar-se da Gibraltar e do Marrocos. A Espanha já detinha, sob Protectorado, 1/3 do Marrocos e ele ambicionava deitar mão aos restantes 2/3, então sob Protectorado da França. No caminho, ocuparia Portugal a fim de evitar que os ingleses usassem a nossa costa para atacar a Espanha. Para tal, segundo Ros, teria encarregado alguns generais de estudar o plano de invasão. Ora planos para conquistar Portugal não constituía novidade no tempo. Era habitual nos altos comandos do exército espanhol estudar planos de invasão de Portugal. O próprio Franco tinha defendido um projecto desses no seu exame para general, 15 anos antes. Sabe-se que Franco pediu a Hitler ajuda para invadir o Marrocos. Portugal ficaria por conta do Exército alemão. Levou resposta negativa em Hendaya (Junho 1940). Podia ter-se dado o caso de Franco se ter convencido posteriormente de que a Alemanha iria tentar a invasão da Inglaterra. Se isso acontecesse, ele ficaria com as mãos livres para deitar mão a Portugal, Marrocos e Gibraltar. Tirou-se pois dos seus cuidados e mandou preparar o plano. Talvez, mas a verdade é que nenhuma medida foi tomada para dar execução ao mesmo: - não houve mobilização, concentração de tropas na fronteira, aumento de produção na indústria de armamentos, e outras manifestações típicas em tais circunstâncias. O investigador Ros precisará descobrir mais coisas para provar a sua teoria.
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Caim & Abel
O padre que foi à televisão corrigir um escritor que recentemente
tratou em livro este tema bíblico precisaria – ele também – ser corrigido. Caim e Abel não representam, como ele disse, a luta entre o rural e o urbano – problema que não se punha no tempo – mas entre o nómada e o sedentário. O sedentário matou o nómada e assim aconteceu por toda a parte, excepto em Espanha, onde a transumância de alguns impediu o cultivo das terras para o bem de todos. Há cerca de 100 anos, Tomás da Fonseca, no alto do Caramulo, procedeu de modo original. Mostrou aos pastores locais – nómadas – que o pinheiro rendia mais do que a ovelha. Gradualmente, os pastores passaram a plantadores; no processo, deixou de haver fogos por aquelas serranias.