OS BENEFÍCIOS DO PROTECCIONISMO EUROPEU – 2
Crise do comércio livre global: como sair?
Proteccionismo e Teoria Económica
A crise actual coloca a questão da regulação do comércio: o livre comércio não pode mais ser um dogma inquestionável pois não se adapta à situação actual que se caracteriza pelo surgimento de países com alta capacidade tecnológica mas baixos salários e com o preço dos transportes e das telecomunicações a diminuir drasticamente. De repente, a concorrência de empregados de diversas origens tem sido possível e com ela a estagnação dos salários... e o desenvolvimento da dívida para resolver a crise na procura doméstica.
Maurice Allais, Prémio Nobel de Economia em 1988, recorda: "a plena liberalização do comércio e dos fluxos de capitais só é possível e só é desejável no contexto de agrupamentos regionais com países económica e politicamente associados e desenvolvimento económico e social comparável. (Globalização, Paris, 1999)[1].
Maurice Allais, Prémio Nobel de Economia em 1988, recorda: "a plena liberalização do comércio e dos fluxos de capitais só é possível e só é desejável no contexto de agrupamentos regionais com países económica e politicamente associados e desenvolvimento económico e social comparável. (Globalização, Paris, 1999)[1].
Como afirma Bruno Aimable (Colloque Fondation Res Publica, Mondialisation régulée des échanges, 28 de Novembro de 2005), A teoria económica diz que há benefícios para o comércio livre, desde que preencham determinadas condições.
Em particular, pode haver benefícios do livre comércio se permitir uma melhor realocação dos factores de produção. O problema é que, se o livre comércio leva a que num país os factores de produção não sejam redistribuídos mas desempregados – e isso são pessoas sem trabalho - é claro que fica de fora dos benefícios do livre comércio. Se houver dificuldades na reabilitação de mão-de-obra para outras actividades, é evidente que a protecção não é apenas desejável mas legítima do ponto de vista da teoria económica.
O horizonte europeu
Não se trata de reconstruir muros intransponíveis e imaginar autarquias absurdas. Não se trata de tentar um proteccionismo nacional absolutamente desadaptado à perspectiva económica actual global. Trata-se de regular o comércio imaginando áreas geográficas suficientemente grandes para evitar a criação de deseconomias de escala – os riscos de proteccionismo. Trata-se de organizar o mundo a nível europeu ou norte-americano ou asiático. Deste ponto de vista, as reacções proteccionistas de alguns líderes europeus que desejam estabelecer uma regulamentação do comércio dentro da Europa são perigosas: em primeiro lugar porque são ineficientes (o mercado é muito desenvolvido para as permitir), depois porque poderia pôr em causa o projecto europeu (vejam-se as reacções dos países da Europa Oriental ao plano automóvel francês) quando o que precisamos é de pensar na recomposição da economia global.
A Europa dos 27 não é certamente uma área ideal regional: tem dentro de si disparidades salariais que não reflectem diferenças de competitividade o que causou uma onda muito grande de deslocalizações: primeiro a alemã e depois a da Europa Ocidental. Mas o conjunto europeu é o mais relevante porque seria impraticável regular os fluxos comerciais dentro de Europa. A União Política não resistiria e esses fluxos comerciais são necessários para a resistência à escala do mundo. Em segundo lugar, as disparidades salariais, quando razoáveis, são boas para a economia: incentivam a inovação e limitam a criação de deseconomias de escala que são um pesadelo para os consumidores.
Finalmente, a história da integração europeia, a seis, a dez e quinze, a 27, é a prova do que o comércio livre pode operar a uma escala regional se for regulamentado, organizado e se fizer convergir actores económicos, tecnológicos e demográficos comparáveis. Espanha, Portugal e, em menor medida a Grécia, podem atestar isso.
Uma unidade de forte crescimento económico, com a concorrência interna a incentivar a inovação, é a condição necessária para a eficácia da regulação do comércio internacional, sabendo que esses grandes grupos já existem, o NAFTA e a América Norte e Sul, a China e o Japão em vias de integração acelerada irrigando o seu poder em todo o Sudeste Asiático.
E talvez amanhã, a entidade europeia possa integrar o Sul do Mediterrâneo ou subsaariano para a reorganização de grandes áreas regionais. Na verdade, é escandaloso que o proteccionismo agrícola, por exemplo, ligue quase sem distinção de aliados naturais e históricos da África e países com os quais não temos grandes interesses. Entenda-se que o proteccionismo é uma arma política e económica que permite definir zona de influência.
E talvez amanhã, a entidade europeia possa integrar o Sul do Mediterrâneo ou subsaariano para a reorganização de grandes áreas regionais. Na verdade, é escandaloso que o proteccionismo agrícola, por exemplo, ligue quase sem distinção de aliados naturais e históricos da África e países com os quais não temos grandes interesses. Entenda-se que o proteccionismo é uma arma política e económica que permite definir zona de influência.
Não se trata de nos escondermos atrás de muros que ninguém vai aceitar numa economia mundial integrada, mas sim definir comportas de comum acordo: uma comporta não é um obstáculo – uma muralha da China – é um dispositivo que permite o fluxo de água (e continua a globalização), em níveis diferentes. A regulação do comércio a nível europeu pode oferecer protecção por um tempo, dando tempo para actualizar a Ásia: se a actualização da Ásia levar muito tempo, a comporta continua. Queriam regulação económica? Aqui está uma: por que não usá-la?
(continua)
27 de Abril de 2009
(banqueiro de investimento, autor de L'avenir d'une exception ed. Flammarion, 2006; para saber mais, ver http://fr.wikipedia.org/wiki/Hakim_El_Karoui)