PELA ROTA DA ÍNDIA – II
CONCLUSÃO DA 1ª PARTE: Regressado Portugal à dimensão do território permitido, encontramo-nos numa situação equiparável à que em 1415 justificou que as naus zarpassem.
+ + +
Apaziguadas as turbulências típicas dos períodos inaugurais das novas nacionalidades, regularizadas as relações internacionais com base no mútuo e pleno reconhecimento das várias soberanias e na utilidade da cooperação bi e plurilateral, estão as complementaridades a desenhar diversos modelos de desenvolvimento, tudo no âmbito do moderno processo de globalização que durante o séc. XX viveu centrado no Atlântico Norte, our sea, versão anglo-saxónica do mare nostrum latino.
Já o séc. XXI – com alguma probabilidade e à custa de muita propaganda – será intensamente vivido em redor do Pacífico e do Índico. Mas outros pólos surgirão e o Atlântico Sul será seguramente um deles. Aí, os pilares (Angola, na margem Leste; Brasil, na margem Oeste; Portugal, a Norte, fazendo a ponte com a UE e com a NATO; Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe em pleno cenário) expressar-se-ão em português (devidamente matizado mas indubitavelmente português).
E as questões que agora devemos colocar são simples:
· Que quadro institucional?
· Que estratégia para o controlo de todo um oceano?
Tenho a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa[1] como o espaço privilegiado para darmos resposta a estas questões e se transformarmos o Atlântico Sul no mare nostrum da língua portuguesa, teremos a vantagem de a Lusofonia não se esgotar nesse novo triângulo de progresso: o papel de Moçambique no ressurgimento da Lusofonia no hemisfério oriental dará uma nova dinâmica à já quase esquecida primeira globalização, a que Portugal iniciou em 1415.
E esta dimensão lusófona, imagino-a alargada aos «portugueses abandonados», aqueles que algures no Mundo e na História foram bem ou mal governados por Portugal, que absorveram os valores que lhes levámos e que após a nossa retirada – por vontade própria ou alheia – ficaram, contra ventos e marés, a defender esses valores quantas e quantas vezes rodeados de hostilidade ou, no mínimo, de desdenhosa indiferença. Refiro-me aos lusófonos da Índia, das Molucas, de Malaca, do Sri Lanka. Outros poderia referir se já os tivesse identificado. Sim, ando na senda de todos esses que por aí fora se dizem portugueses e de quem nunca mais ouvimos falar. Se os houver, encontrá-los-ei e se não for eu a encontrá-los, espero deixar a motivação suficiente para que outros o façam depois de mim.
E foi nessa busca de «portugueses abandonados», que iniciei pela Índia, que encontrei o Dr. Jorge Renato Fernandes, médico residente em Panjim, capital de Goa, Comendador da Ordem do Infante D. Henrique[2], que esperou 47 anos para que o Governo Português se lembrasse de o incluir no Conselho das Comunidades Portuguesas e que, para além de outras iniciativas em prol da cultura portuguesa em Goa, foi o fundador da Sociedade da Amizade Indo-Portuguesa[3], instituição que congrega os lusófonos goeses mais dinâmicos.
(continua)
(in Boletim de 2009 da Academia Galega de Língua Portuguesa – pág. 123 e seg.)
NOTA: Agradeço ao Dr. A. Palhinha Machado a inspiração para o mare nostrum referido neste texto
[1] - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor-leste como membros de pleno direito e Guiné Equatorial e Macau como observadores
[2] - Nomeado pelo Presidente da República, Mário Soares, sob proposta do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Nuno Krus Abecasis
[3] - Também denominada Indo-Portuguese Friendship Society, registada com o nº 6/GOA/93 do Societies Registration Act 1869 (Central Act 21 of 1960) e com sede no Edifício Santosh, r/c, junto ao CBI Office, Altinho, Panjim – Goa, Tel: 0091(832) 2436875