PARA UMA DIMINUIÇÃO DA NATALIDADE
(ao estilo de comentário alargado)
Leio o texto “Religião põe à prova a tolerância do Estado Secular” de António da Cunha Duarte Justo, encimado pela foto de um rapaz muçulmano dobrado sobre um tapete, aparentemente no átrio duma escola. Expõe que a directora dum liceu alemão, tendo proibido um aluno árabe de fazer as orações diárias no seu tapete, a pretexto de que se tratava de uma escola neutral na questão religiosa, se viu confrontada com uma acção posta em tribunal pelo usufrutuário do tapete e sentenciada a aceitar de volta aluno e tapete, temporariamente voados de lá.
Duarte Justo acha a sentença judicial propícia a novos temores e desequilíbrios sociais, numa luta entre cruzes e tapetes e interroga sobre o caso português onde “o governo socialista expulsou as cruzes da escola” e em que a probabilidade de igual incidente de força arábica – que é o mesmo que dizer petrolífica - faria o nosso PM repensar o caso das cruzes, segundo o ideário da democracia de igualdade de oportunidades, já que, para todos os efeitos, se teria de render à força dos tapetes.
Pergunta ainda Duarte Justo se “o medo duma escola devota será proporcional à náusea dos preservativos socialistas na escola portuguesa”. E acrescenta: “Quem como o PM Sócrates instrumentalizou a escola para a distribuição de anticonceptivos gratuitos e para a indoutrinação sexual, certamente não terá dificuldade em colocar também genuflexórios e tapetes de oração”.
A este texto respondi com um comentário que me parece pertinente, e por isso o transcrevo: “Creio que sim, que a nossa Educação possa permitir a entrada do tapete para a genuflexão muçulmana, ou para outros quaisquer objectivos que tenham a ver com o uso da pílula de forma mais confortável. Por uma questão de democracia, é natural que também mande construir altares de madeira, ou mesmo nichos piedosos, para mostrarmos que não temos menos direitos que os muçulmanos de rezar nos corredores, quando em casa provavelmente não precisamos. É preciso respeitar os muçulmanos e os seus tapetes. Mas talvez os muçulmanos nada queiram de nós. Ficar-se-ão pela Alemanha, cujos tapetes são mais macios, e deste modo a nossa Educação prosseguirá altiva em direcção ao nada de sempre, apesar dos esforços de tantos dos seus excelentes professores, que têm que cair em todas as armadilhas que lhes são estendidas. Sem tapete”.
Mas foi, sobretudo, pensando em nos manter na testa da Civilização que o nosso PM propôs a substituição da cruz pela pílula, ou mesmo, em caso de necessidade, pelo tapete oriental, progressista como é, não desejando equiparar-se aos condes Gouvarinho da galeria queirosiana, quando este exclama para Torres Valente, que propusera a abolição do catecismo na escola: “Creia o digno par que nunca este país retomará o lugar à testa da civilização, se nos liceus, nos colégios, nos estabelecimentos de ensino, nós outros, os legisladores, formos, com a mão ímpia, substituir a cruz pelo trapézio...” (“Os Maias”, IX).
Nunca o nosso PM se posicionaria num registo destes, de gouvarinhanço! Só muito forçado pelas incongruências dos tempos que atravessamos, que nos forçam ao tapete, e que por isso nos impõem igualmente a cruz. Mas de preferência o preservativo.
Berta Brás