PELA ROTA DA ÍNDIA – I
Ceuta - aqui se fundou o Império Português
Foi cedo na História que Portugal se sentiu esmagado pelo vizinho que não lhe reconhecia a autonomia política e logo percebeu que ou ganhava dimensão ou deixava de existir como Nação soberana. Por isso iniciou em 1415 a expansão para o Ultramar, senda na qual construiu um Império de dimensão suficiente para lhe garantir a existência.
Não cabendo aqui resumir o que foi o percurso imperial português, basta referir que foram três os valores que perenemente resultaram como distintivos dos povos colonizados: a religião, a língua e os genes.
E se a componente religiosa começou por se justificar no âmbito do apoio sanitário aos mareantes e nos 17 hospitais edificados entre Tavira e Goa, logo passou a constituir principal motivo oficial da expansão, pia cobertura do prosaico comércio de ouro e de outras cobiças nessas épocas hoje distantes. Estando então a sede do Direito Internacional Público localizada na Roma papal, foi a bênção obtida para protecção do negócio privado e assim alcançada a plena legitimidade do processo imperial.
Mas Portugal tinha escassa população à época do início dos descobrimentos e teve que se socorrer de estrangeiros não só em quantidade como sobretudo em qualidade. Mareantes de hierarquia variada e religiosos estrangeiros serviam sob as ordens dos Capitães – que a Coroa escolhia sempre que possível dentre os seus súbditos – e enquadravam tripulações remidas de cárceres ou apanhadas em descuido de tabernas. Ou seja, o primor da língua portuguesa não seria apanágio das tripulações das naus dos descobrimentos uma vez que parte substancial da hierarquia superior não era portuguesa e os nacionais embarcados eram de condição intelectual muito duvidosa.
Do fraco calibre intelectual resultou, contudo, uma particularidade portuguesa, inédita entre os demais povos colonizadores: a miscigenação. E da fraqueza se fez tal força que, tendo sido os primeiros a rumar por esses mares além, fomos os últimos a deles regressar.
Regressados à dimensão do território permitido, houve que assentar num modelo compatível com o padrão europeu e se não vem aqui à colação discutir alternativas às opções então tomadas, constatemos que Portugal se encontra neste início do século XXI numa situação equiparável àquela que em 1415 justificou que as naus zarpassem para esses mares ignotos.
(continua)
(in Boletim de 2009 da Academia Galega de Língua Portuguesa – pág. 123 e seg.)