AINDA O «TGV»
De Autor não identificado cujo texto me chegou por mão amiga, respigo:
Quando Isabel I de Castela se casou com Fernando II de Aragão, foi Castela que absorveu Aragão e não este aquela, e os dois tomaram o nome de reis de Espanha, quando eram apenas reis de Castela-Aragão. Intui-se que com esta designação Isabel I, a verdadeira rainha de "Espanha" (Fernando, agora V, não passava de um rei-consorte), tinha em mente a absorção por Castela de todo o território de Espanha, mera designação geográfica. E conseguiu-o com a conquista do reino moirisco de Granada. Faltava-lhe apenas anexar Portugal, onde reinava " O Homem", como ela designava o nosso D. João II. Nunca lhe foi possível fazê-lo.
Quando à língua de Castela chamaram "espanhol" reafirmava-se a intenção de estendê-la a toda a península hispânica. Nunca foi conseguido esse desiderato.
Contudo, nos recessos da alma do orgulhoso "espanhol" (diga-se castelhano), a Espanha era toda a Península, politicamente falando e Portugal não passava – e não passa – duma província, quiçá "região", rebelde, irredenta[1], insubmissa, irracional e atrasada.
"Presunção e água benta cada um toma quanta quer", diz o ditado. E Portugal sempre através dos séculos se manteve "orgulhosamente só", parafraseando uma expressão distorcida no nosso tempo.
Contudo, Portugal ameaçado pelos seus próprios reis – que ou pretendiam eles próprios unir a península sob o seu ceptro ou se casavam intensamente com princesas "espanholas" (diga-se, castelhanas) – foi invadido em 1580 e submeteu-se a Espanha (diga-se, Castela) durante 60 anos.
Depois, em fins do século XVIII, o exército português, aliado ao exército espanhol (diga-se, castelhano) combateu os franceses revolucionários no Rossilhão e foi traído por este (exército castelhano) que fez as pazes com os franceses sem dar satisfação aos portugueses, povo espanhol de segunda categoria. E poucos anos depois, estes mesmos castelhanos fizeram um pacto com os franceses para repartição entre eles do passivo reino português: perdemos "apenas" Olivença e sua Comarca que, sendo portuguesa, ficou castelhana ilegalmente até hoje.
Fala-se também que Afonso XIII, durante a 1ª república em Portugal, pensou na invasão do nosso país. Fala-se também que a tese de fim do curso militar de Francisco Franco foi o plano de anexação de Portugal em breves horas. Sempre a mesma obsessão não confessada[2] de agregar Portugal a "Espanha" (diga-se Castela).
Hoje, está em cima da mesa o plano de construção do TGV que nos ligaria a Madrid.
O TGV em Portugal, que ouvimos ser defendido pelos castelhanos, chamando retrógrados, passadistas, reaccionários aos Portugueses que o recusam, é mais uma manifestação dessa obsessão íntima a que fiz referência atrás.
O TGV[3] é uma via de acesso rápido a Portugal, uma forma de invasão castelhana, uma tentativa de domínio castelhano sobre Portugal.
Portugal é hoje um país minúsculo. Por isso mesmo tem o dever de defender intransigentemente a sua independência, porque uma panela de barro junto de panelas de ferro, parte-se com certeza. E todos os bons Portugueses querem o seu País inteiro e digno.
O traçado de um putativo TGV que sirva Portugal deverá atravessar a fronteira próximo de Bragança em direcção a Irun. Em Portugal, o traçado deve ligar Bragança ao Porto sendo Lisboa o terminus da linha que se inicie em Helsínquia com passagem por Paris.
Porquê este traçado? Porque hoje Paris não ameaça a soberania portuguesa e Madrid não pensa noutra coisa.
Lisboa, Outubro de 2009
[1] Irredentismo – Doutrina segundo a qual devem pertencer a Itália todas as regiões politicamente dela separadas mas que lhe estão ligadas pelos costumes e pela língua. In «Dicionário Torrinha», Ed. 1947
[2] - Não confessada nos corredores diplomáticos mas ensinada actualmente às crianças na instrução primária espanhola em que a Península Ibérica é apresentada como um todo, incluindo Portugal
[3] - Madridocêntrico