A PALAVRA PROIBIDA
Sinto-me à vontade para pronunciar uma palavra proibida no léxico do “economês”: proteccionismo.
Desde já advirto que uma coisa são os anos 30, onde a teoria económica patinava e se ergueram muralhas proteccionistas, outra coisa é 2010, onde a crise persistente recomenda a criação de um sistema de comportas entre regiões economicamente muito díspares mas onde desemprego e desigualdades continuam a crescer.

Cimeira do G20 - Londres 2009
A cimeira do G20 terminou com apelos contraditórios à regulação e ao comércio livre. Os decisores do costume continuam a dizer que a livre circulação de mercadorias deveria ser acompanhada pela liberdade de circulação dos meios de produção e a livre circulação de capitais. Mas aqui termina o acordo pois já todos perceberam que a desregulação dos mercados financeiros trouxe quase tantos males quanto bens. E todos os dias chegam notícias de como a heterogeneidade profunda entre as economias da área europeia, norte-americana, dos BRIC e dos países subdesenvolvidos exige uma regulação que tem de passar pelo proteccionismo moderado.
As nossas compras de produtos chineses a um euro desempregam uma trabalhadora de Famalicão, exploram um camponês de Yunan e só dão a ganhar aos rendeiros do Estado chinês e de alguma banca. Isto é contra todas as normas do comércio livre que, na Europa, sempre foi um instrumento compatível com direitos sociais e ambientais.
O proteccionismo moderado é uma variante da economia de mercado; não é uma alternativa. É preciso uma nova atitude dos Estados e das empresas europeias onde os salários não são apenas um custo, mas também um investimento e onde a democracia política e económica foi criada para assegurar esses direitos sociais e ambientais. Essa Europa tem de ser defendida dos predadores. Nós vamos continuar a falar disto no Forum Bernard Lonergan, na Universidade Católica, a partir de 12 de Outubro.
Lisboa, 30 de Setembro de 2009