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A bem da Nação

POSTAIS ILUSTRADOS XXVI

 

TEOLOGIA DA ECONOMIA II
Parte III
(Continuação)
Tudo e Nada
B - A espessura humana dos problemas

 Portugal era o mais atrasado país da Europa, o mais inculto, o mais pobre, o mais triste” Miguel Sousa Tavares, in Equador, pág. 82, 19ª Edição, Outubro de 2004, Oficina do Livro.

 
A expressão usada pelo Santo Padre, na Encíclica Caritas in Veritate, e que tem em conta a espessura humana dos problemas como aliada das grandes crises mundiais, é, de facto, uma realidade concreta: os conflitos e as conexões de interesses têm sempre presente um vector, o factor humano! É esse factor que traz fragilidade a tudo o que o Homem empreende. Por isso, reduzindo a objectiva para uma escala menor, prefiro referir-me à espessura humana dos erros que, por sua vez, provocam os problemas. E, em relação a nós, Portugal, os erros sucedem-se, doentiamente recorrentes, numa obstinação sem paralelo na História dos outros povos. Reporto-me à citação acima que fiz de Miguel Sousa Tavares, numa parte do romance em que descreve os últimos dias da monarquia constitucional e o advento da república. Conseguimos, desde então, sair desta posição? Recordo que, à época, éramos detentores de um Império... mas, atrasados, incultos, pobres e tristes. Não me fico por aqui, e transcrevendo uma parte do texto da pág. 83: “... decidisse ele [1] nos assuntos concretos da governação, pôr fim ao oligopólio dos partidos [2] e chamar os melhores da sua escolha, para governar, e as turbas da imprensa e da política cairiam em cima dele aos gritos... [2]” [3]. Não se passa, actualmente, com as necessárias adaptações, a mesma coisa? A continuação e manutenção desta mentalidade mesquinha, obstinada e cega é que me preocupa. O que mais me assusta e, - continuando num repetido sinal dos tempos, num dejá vu permanente -, é o discurso político dos debates a que assistimos e se resumem:
i)                                Na área das esquerdas stalinista e trotskista a duas cassetes diferenciadas apenas no estilo, mas que outorgam a incapacidade das oposições que gritam mais alto. O mérito é esse: fazerem barulho; já que estão impedidos de partilhar o poder e, a arrogância cega dos partidos da alternância não lhes permite aceitar que algumas das políticas sugeridas por estes até são socialmente aceitáveis, para não dizer melhores;
ii)            Na área dos partidos da alternância, o descaramento e à vontade com que os respectivos responsáveis máximos se apresentam no debate público político, como se já não tivessem estado nos governos precedentes, sós ou em coligações, como se não fizessem parte do problema, com os erros constantemente praticados e sempre os mesmos.
O estado imobilizado pelo centralismo e prisioneiro das malhas de um clientelismo sanguessuga, dominante, do núcleo duro do poder, aglutinador de uma nova classe omnipresente e oligopólica, sem consciência social e cívica, que trava conscientemente a multidiversidade e concretização de novas políticas sociais, do desenvolvimento do pluralismo ideológico, da busca de consensos patrióticos, abrindo-se ao diálogo político e facultando a alternância no poder, com seriedade, e acompanhada de um pacto de regime que respeite a obra precedente e lhe dê continuidade, que não a destrua por motivos fúteis, em prol do progresso e do nosso futuro. Esta é a chave para a vitória do povo, do colectivo sobre os interesses particulares. Passámos por reformistas “modernizadores”, uns mais moderados outros menos, como Sebastião José de Carvalho e Melo, Fontes Pereira de Melo, António de Oliveira Salazar e Aníbal Cavaco Silva, mas nenhum deles beliscou as raízes do nosso atraso inato e secular; nenhum deles deu luta ao nosso baixo nível cultural e científico, proclamando a ignorância como inimiga pública [4]; nenhum deles incutiu combatividade à nossa ancestral passividade e à nossa incapacidade para nos organizarmos como sociedade, que nos torna ingovernáveis e presas fáceis de formas musculadas de governação. A máxima popular de que se aprende com os erros não se aplica a nós, porque, infelizmente, somos um país habitado por oxímoros... Concluirei esta saga textual com a Parte IV das conclusões e uma Vª Parte, a do debate, reservo-a, como prometido, dando resposta àqueles que tiveram a gentileza de comentar as minhas expressas opiniões. (continua)
 
 Luís Santiago 
 
[1] O Senhor D. Carlos, Rei de Portugal;
[2] O sublinhado é da minha responsabilidade;
[3] Foi este ambiente de tumulto e insegurança que criou o clima propício ao regicídio, descrito (o ambiente) com muita precisão pelo autor (*);
[4] O iletrismo em Portugal é chocante. No nosso país vivem ainda 1 milhão de analfabetos. Os estudos da OCDE acerca desta matéria foram objecto de comentário do PR, em Évora, a 15 e Abril do corrente ano. Cavaco Silva recordou que esses estudos revelam que, relativamente, à iliteracia na disciplina de matemática, esta é muito baixa. Sendo «muito baixa», no dizer do PR: «constitui um obstáculo ao nosso desenvolvimento». Nada de surpreendente quando verificamos que primeiros-ministros e ministros das finanças portugueses se atrapalham publicamente com as contas do PIB;
(*) Miguel Sousa Tavares enuncia as fontes escritas em que se baseou para descrever o ambiente dessa época.
 

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