A CULTURA NO FUTURO DAS CIDADES – 1
Interior do Castelo de Tavira
INTRODUÇÃO
Em primeiro lugar quero agradecer ao Elos de Tavira[1] o convite, em especial à Dr.ª Isabel Dias, simpático para mim e arriscado para vós, para estar aqui convosco neste agradável jantar e melhor ambiente e partilhar algumas reflexões sobre este tema que tem a particularidade de juntar três palavras todas elas envoltas em algumas confusões e malentendidos e prometendo esforçar-me por não ser pessimista nem excessivamente sonolento, ou seja não dormirem já, nem ficarem deprimidos no final.
PORQUE ESCOLHI ESTE TEMA
A razão de ter escolhido este triplo tema reside nos factos seguintes: estarmos a viver uma época fantástica pois no último meio século a humanidade inventou, descobriu e melhorou inúmeras tecnologias que permitem o acesso aos vastos conhecimentos existentes e a comunicação entre toda a gente esteja ela onde estiver completando assim a globalização iniciada pelos portugueses no século XV e ainda o de a população mundial ter passado de 1 bilião antes de 1900 para cerca de 7 biliões agora simultaneamente com aumentos significativos da esperança de vida.
Globalização esta que conforme foi demonstrado matematicamente pelo Prof. Carvalho Rodrigues foi iniciada e atingida durante o século, ou quase, em que os portugueses dominaram os mares do mundo, descobrindo todos os continentes embora dois deles (América e Austrália) mal tratados pela História, ou pelo menos pelos nossos historiadores.
Além disto existe uma enorme quebra na biodiversidade, consubstanciada em milhares de espécies já desaparecidas e muitas outras em vias disso, em milhões de hectares de florestas destruídas, em aumentos da percentagem de CO2 na atmosfera e aumentos da temperatura média do planeta, para ser muito resumido e, além disto, estamos a meio (talvez já com o fim à vista) de uma crise que significa na verdade o fim do capitalismo liberal após cerca de 20 anos antes se ter dado o fim do marxismo comunista, e curiosamente não resisto à tentação de acrescentar: porque essencialmente ambos pecaram pelaganância desmesurada dos detentores do poder, num caso político noutro financeiro, independentemente doutras causas sistémicas.
De acordo com as notícias do dia em que figuram números assustadores de algumas dezenas de contaminados com a gripe A parece que o combate a esta pandemia é o assunto mais importante mas não podemos esquecer alguns números muito expressivos indicados no relatório da Cruz Vermelha como sejam: cerca de 2,6 biliões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia e 50 000 morrem por dia de miséria extrema, a malária que os portugueses tinham conseguido erradicar nos seus territórios, mata anualmente um milhão de pessoas e por aí fora.
E ainda uma contradição de funestas consequências: a droga, que obriga os países mais desenvolvidos a combaterem os produtores gastando milhões, enquanto estes ganham milhões a vendê-la aos primeiros e usando o mesmo sistema financeiro internacional.
Estamos de facto num período de profundas alterações que vão pôr à prova as capacidades de sobrevivência de toda a humanidade e em especial das suas cidades.
Não podemos esquecer que o primeiro dever do ser vivo é viver e para isso é preciso sobreviver pelo que as duas forças essenciais da evolução humana foram, são e serão a luta pela sobrevivência e a luta pelo poder.
(continua)
Tavira, 8 de Agosto de 2009