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A bem da Nação

O TORPOR DAS MENTES

 

A INCAPACIDADE DE PENSAR
 
Uma das coisas mais difíceis para o homem – como ser vivo dotado de razão – é, curiosamente, pensar. E, claro está, muito mais difícil ainda é pensar bem. Enquanto que pensar bem qualifica, o pensar simplesmente quantifica, criando uma aparência de movimento que não é senão a ilusão provocada por uma sucessão de imagens repetitivas, disfarçadas por ténues diferenças epidérmicas que não alteram a sua constituição interna, mas que são suficientes para darem a falsa ideia de mobilidade. É óbvio que numa época como a nossa, onde impera a comunicação massificante, este é o meio, único, que convém e quem o faz adquirir de imediato um notório ascendente sobre a imensa multidão dos que foram educados para simplesmente não pensar.
 
Temos assim os que pensam bem, os que pensam simplesmente e os que são pensados porque simplesmente não pensam.
 
Os que pensam bem não convêm, de forma alguma, a esta sociedade carente de autênticos critérios morais e espirituais porque esses, tendo um discernimento claro acerca do bem e do mal, apontam o dedo, não com o fim de acusar, mas de curar e orientar o indivíduo e a sociedade. Pensar bem é ver claro, é ter capacidade de ver não só a curto prazo, mas também a médio-longo prazo, é procurar as causas profundas das coisas vencendo a inércia que nos limita aos efeitos superficiais. É, enfim, estar consciente da existência das duas outras categorias e, em vez de negá-las, aceitá-las alegremente como partes de sse maravilhoso mosaico que constitui a evolução humana.
 
Os que pensam simplesmente formam uma categoria mais vasta mas, ainda assim, limitada. Quando os primeiros emudecem ou são amordaçados pelos ventos históricos de signo inferior, estes fraudulentamente assumem-se como o escol, fabricantes já não de juízos mas de opiniões. Estas baseiam-se na sua própria ignorância e na alheia porque pensar simplesmente não é pensar bem. Não têm uma clara noção do que é o bem e do que é o mal tornando-se paulatinamente, movidos pela própria ignorância, amorais, isto é, incapazes de estabelecer a fronteira entre a moral e a imoralidade. Quando lideram são perigosos porque ambíguos relativamente aos valores essenciais e porque pensam e agem na amoralidade. Compõem a casta dos “intelectuais” usando e abusando de raciocínios hábeis e de motes persuasivos que confundem as multidões e empolgam os incautos e oportunistas. Levam a reboque nas suas elucubrações demagógicas e fantasias sensacionalistas os prosélitos de curta imaginação mas de basta ambição provinciana. A sua esperteza profunda (que não inteligência esclarecida) impede-os de conceber que seja a categoria mais elevada, a dos que pensam bem, a única a quem a natureza conferiu o dom raro e excelso de, legitimamente, governar, visto que não há nada mais legítimo do que governar os outros quando se se governa a si próprio.
(...)
 
  Eduardo Amarante
In “PORTUGAL – A MISSÃO QUE FALTA CUMPRIR”, ed. Zéfiro, Março de 2009, pág. 144 e seg.

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