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A bem da Nação

Judeus, um povo das coxias

                                                     

                                                    
 
 
 
Povo que fez na diáspora a sua história, os judeus desde que foram culpabilizados pela morte de CRISTO sofreram com o preconceito dos cristãos, seus herdeiros monoteístas, que muitas vezes aceitaram a ajuda e tiraram proveito deles. Repudiados, perseguidos, sem direito a possuírem terras e profissões de status, fizeram do dinheiro o seu principal comércio. Podiam emprestá-lo a juros (USURA), coisa proibida aos cristãos pela Igreja. Errantes, desde os tempos bíblicos, as suas riquezas eram os bens portáteis que o dinheiro comprava e a sua crença.
 
À procura de um lugar idealizado, vindos das terras do Oriente, chegaram à Europa por volta do ano 965. Os países do leste receberam-nos bem, principalmente a Polónia. Lá, tornaram-se grandes comerciantes, mercadores, fabricantes de seda, corretores, banqueiros, mas ainda sem direito ao solo.
 
Na Europa Ocidental, mais exactamente na Península Ibérica, instala-se uma comunidade judaica. Tanto no norte, dominado pelos cristãos, como no sul dominado pelos muçulmanos, os judeus, a principio, foram bem acolhidos.  Quando se completou a reconquista cristã de Castela, em 1150, Afonso VII, proclamou-se o Imperador das Espanhas, rei das três religiões (cristã, judaica e muçulmana).
 
Nas terras de Espanha (Sefarad), florescem o comércio, o artesanato, a agricultura, as profissões como tecelões, sapateiros, ferreiros, ourives, oleiros, tintureiros. Em Barcelona, metade da população de joalheiros, gravadores, encadernadores, era judia. Em Tudela brilhavam a medicina e os vitrais. Grande parte dos olivais era explorada pelos judeus. Aragão, Navarra, Porta, têm ricos financistas judeus que são estimulados pelos monarcas e Igreja a serem prestamistas (aqueles que emprestavam dinheiro a juros).  Na Ibéria tornam-se aconselhadores de príncipes, cunham moedas para as cortes, viram financeiros e financiadores de reis e de seus projectos. Trabalham nas coxias da política, são os executantes, mas sem, no entanto, aparecerem oficialmente.   Em Sevilha os Abravanel, em Toledo os Shoshan, os Benvenistes em Bruges, os Caballeria em Saragoça, famílias judias que serviam aos príncipes, não directamente ao Estado.
Nas terras da reconquista cristã, empreendida pelos cruzados do norte da Europa e por alguns dos seus pequenos reinos, os judeus serviriam de colonos e administradores.
 
Reconquistada a Península, aos muçulmanos, a Igreja de Roma, fortalecida, começou a impor seus dogmas. Passou a fazer campanhas para separar as duas comunidades restantes. Em Castela, no século XIV, os judeus são proibidos de todas as funções junto ao Estado. Invejados, são perseguidos até que os mercadores cristãos passam a exigir a sua expulsão. Muitos vão para Portugal, outros são convertidos, a maioria é perseguida pelo Santo Oficio.
 
Em Barcelona a família Crescas que dirigia o Centro Judaico de Cartografia (Academia Nacional de Palma de Maiorca) vê o filho de Abraham Crescas, Yehudah, obrigado a converter-se sob o nome de Jaime Riba. Este entra em Portugal, a serviço de Henrique, o Navegador, (filho de João I) e torna-se o director da Escola de Sagres.
 
Desde os tempos de Salomão que os mercadores judeus singravam os mares. Notáveis marinheiros viajaram em embarcações egípcias, persas, gregas, árabes, com eles adquiriram extraordinários conhecimentos, dominaram a cartografia e inventaram instrumentos para a navegação.
 
Sob D. João I, os judeus marinheiros participaram das primeiras conquistas ultramarinas portuguesas. Participaram activamente da organização do comércio exterior do reino. Nos anos seguintes financiaram e organizaram muitas das viagens marítimas das descobertas portuguesas no ideário de achar uma nova terra prometida onde pudessem preservar seus costumes e exercer a sua crença.
 
 Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 04/08/09
 
Dados bibliográficos:
Os judeus, o dinheiro e o mundo (Jacques Attali)

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