POSTAIS ILUSTRADOS XXII
TEOLOGIA DA ECONOMIA II
Parte III
(Continuação)
Tudo e Nada
“Há quem passe pelo bosque e apenas veja
lenha para a fogueira”. Leon Tólstoi
A Encíclica caiu no seio do G8 alargado.
Teria sido a sopa que caiu no mel? Ou o contrário? Quem sabe? São misteriosos os desígnios do Vaticano! A agenda emparelhou com a intenção e conteúdo da “Caritas in Veritate”. Foi clarividente e oportuno! Um outro Homem, há 34 anos, Valéry Giscard d’Estaing, presidente da República Francesa, apadrinhou e levou a cabo uma reunião de chefes de Estado, dos países economicamente mais fortes do mundo, para discutir uma agenda política comum, nomeadamente, os assuntos de ordem internacional que poderiam influenciar e afectar as políticas internas e, estas, vice-versa, influenciar e afectar as relações internacionais.
Esta visão é agora repetida, num outro plano, por Bento XVI, chamando à colação os temas que um grupo de poderosos países de indefectível e determinante influência vão analisar e que não podem eximir-se de ver as árvores do bosque e que estas (as árvores), no Mundo de hoje, não são lenha para a fogueira dos problemas económicos, políticos e sociais com que se debate a comunidade internacional.
As Igrejas do Mundo também devem fazer cimeiras deste género (I8) para dar uma “mãozinha” ao esforço do G8 e colocar os seus fiéis no caminho de uma ajuda efectiva aos seus semelhantes, atingidos pelo infortúnio da miséria e da enorme humilhação da fome injusta, mas solucionável. Esperemos que de L’Aquila, surja um furacão de vontades unânimes e sob a sombra das Igrejas que o actual Sumo Pontífice terá a humildade, caridade e dever de fazer congregar à sua volta, tenha ficado a semente de uma nova era, recolhendo os frutos do longínquo 1975 [1], e que os temas tratados, não sejam pura e simplesmente ignorados, ou postos em movimento com a lentidão que é peculiar nas teias burocráticas dos Governos das Nações.
É preciso lançar o alerta da premência e consciencializar todos para a urgência da defesa dos valores humanos em prol da sobrevivência da nossa própria Humanidade!
Viajemos, então, pelo pensamento de Bento XVI: “O lucro é útil se, como meio, for orientado para um fim que lhe indique o sentido e o modo como o produzir e utilizar. O objectivo exclusivo de lucro, quando mal produzido e sem ter como fim último o bem comum, arrisca-se a destruir riqueza e criar pobreza”.[2]
O que Bento XVI nos quer dizer é que o fim aceitável do lucro, numa economia capitalista, não deve ser enriquecer uns quantos, mas enriquecer a Comunidade para que deva ser redistribuído. E, mais adiante, escreve o Santo Padre, o seguinte: “Actualmente o quadro do desenvolvimento é policêntrico. Os actores e as causas tanto do subdesenvolvimento como do desenvolvimento são múltiplos, as culpas e os méritos são diferenciados. Este dado deveria induzir a libertar-se das ideologias que simplificam, de forma frequentemente artificiosa a realidade e levar a examinar com objectividade a espessura humana dos problemas”.[3] Acutilante! Atendendo que na extensa Agenda do G8 se incluiu, tendo em conta o cenário de agitação internacional, a análise do recente golpe militar que teve lugar nas Honduras e os distúrbios causados pelo resultado do processo eleitoral iraniano, em matéria de política internacional, bem assim, a preocupante agitação que decorre dos recentes testes bélicos ocorridos na Coreia do Norte e as violentas agitações de natureza político-religiosa ocorridas na China. Por outro lado, em matéria social, o espectro da fome faz também parte dos pontos da Agenda, já que a segurança alimentar também é matéria fundamental, cuja existência, mormente nas regiões da África profunda e entre os movimentos de refugiados originários de conflitos regionais, exige ser discutida.
Hodiernamente, mesmo com os altos níveis de produção de cereais, o problema da fome é cada vez mais preocupante. Novos apoios a programas de controlo de natalidade; novos modelos de distribuição da produção agrícola e as ajudas com carácter de urgência aos países mais necessitados, constituídos, também, pontos cruciais desta panóplia de debates, são realidades que não têm fácil solução.
Outro antigo, mas não menos importante tema de reflexão é a questão ambiental, sabido que, do Protocolo de Kyoto não se conseguiu ainda a unanimidade na redução dos índices de emissão de CO2 e isto é um ponto fulcral para que o aquecimento global e outras catástrofes naturais sejam evitados. Mas, no próximo texto, abordarei com mais pormenor, a questão do lucro e a espessura humana dos problemas, tópicos que são essências para uma melhor identificação do pensamento de Bento XVI, em contraste com as receitas milagrosas para estes tempos conturbados da Crise que nos oferecem certos “autores” e cujos livros vendem milhares de exemplares. É assim! Em terra de cegos quem tem um olho é rei e há que aproveitar a onda da crise, vendendo sonhos e disparates aos incautos sequiosos de encontrar uma panaceia para a sua falta de dinheiro.
Os Homens não têm mesmo juízo e continuam sempre a bater no mesmo, sem descanso, e sem qualquer resquício de sensibilidade. É o salve-se quem puder, mesmo que isso equivalha a destruir tudo...
(continua)
[1] A primeira reunião teve lugar em Rambouillet , nos arredores de Paris, a 15 de Novembro de 1975;
[2] Encíclica Caritas in Veritate – CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO HUMANO NO NOSSO TEMPO, Ponto 21;
[3] Idem, ponto 22.